Segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Exposição maior a hormônios femininos aumentam incidência
A luz
rosa de alerta para o câncer de mama costuma acender na vida das mulheres
brasileiras a partir dos 40 anos, quando a mamografia passa a ser um exame de
necessidade anual, segundo recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Há ainda quem comece a se preocupar somente aos 50, idade considerada de risco
pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No
entanto, a doença tem relação direta com o desenvolvimento da glândula mamária,
que começa a crescer logo após a primeira menstruação, e por isso, pode
aparecer antes mesmo dos 30 anos, segundo especialistas.
“Quanto
maior o tempo de exposição aos hormônios [estrógeno e progesterona], mais a
mulher fica suscetível às células malignas”, disse o oncologista Márcio Paes,
médico no Instituto Aliança, no Distrito Federal. Segundo ele, a incidência da
doença em mulheres com menos de 30 anos tem aumentado, mas ainda não há um
diagnóstico científico que explique este crescimento.
A
oncologista Ana Carolina Salles, do hospital Santa Lúcia, disse ao G1 que nos
casos de mulheres mais jovens a investigação genética é imprescindível.
"Geralmente, elas têm histórico positivo para câncer de mama na família.”
"Essas
meninas jovens precisam ser pesquisadas, porque podem estar carregando mutações
que podem ser repassadas para as filhas."
A
médica, no entanto, destaca que o que câncer é multifatorial e, por isso,
também pode ser influenciado por questões externas, como o consumo de produtos
industrializados. O oncologista Paes aposta no ritmo de vida estressante e
acelerado e na exposição hormonal precoce. “Antigamente, as meninas menstruavam
aos 14 anos e hoje isso já acontece aos 9 anos. Então, a produção hormonal
começa ter ciclos muito cedo.”
“Acabou
essa de que [o câncer] só é mais recorrente em mulheres acima dos 40 anos. Há
cada vez mais pacientes abaixo dos 30.”
É
o caso da brasiliense Gabrielly de Oliveira, que descobriu o nódulo no seio aos
25 anos e passou por seis meses de quimioterapia. Ela disse ao G1 que tinha uma
vida ativa, se alimentava bem e não tinha histórico de câncer de mama na
família. Mesmo assim, foi surpreendida pela doença. Há cerca de dois meses,
elas fez a mastectomia – cirurgia de retirada da glândula mamária.
Fique
alerta
A
avaliação precoce é considerada pelos médicos o principal fator de sucesso no
tratamento contra o câncer – de qualquer tipo. Conhecer o próprio corpo também
é primordial, segundo a oncologista Ana Carolina. “A mulher precisa estar
atenta a qualquer mudança no próprio corpo. Se saiu da normalidade, procure um
médico.”
Nos
casos de mulheres mais novas, o diagnóstico antecipado é ainda mais importante,
porque o câncer tende a ser mais agressivo, afirmou o médico Márcio Paes. “O
prognóstico costuma ser pior abaixo dos 30. São nódulos maiores. A mulher jovem
tem a vantagem de tolerar melhor o tratamento, mas tem que ter o cuidado mais
rigoroso.”
Foi
o que ocorreu com Gaby, que buscou uma avaliação médica de imediato. No
entanto, há mulheres que levam meses para investigar uma alteração fisiológica,
como a atleta Larissa, de 42 anos. Ela fez a mamografia cerca de cinco meses
depois de perceber os caroços no seio. Hoje, mastectomizada e recuperada, ela
recomenda o oposto do que fez.
"Talvez,
se não tivesse demorado tanto, meu tratamento teria sido bem menos
doloroso."
Um
diagnóstico eficaz, no entanto, depende de uma rede de saúde capaz de amparar
essas mulheres em todas as necessidades, desde os exames de rotina às terapias
intensivas. “Vivemos uma crise na saúde pública em que as mulheres não têm
acesso aos exames, mamografia, ecografia mamária. Às vezes não consegue
atendimento de um ginecologista”, disse Paes.
“A
demora é o que torna tudo pior. O acesso [à saúde] define a chance de cura.
Aumenta de 90% a 95%.”
De
acordo com a Secretaria de Saúde, a média de mamografias realizadas nos
hospitais da rede pública é de 2 mil por mês – o DF tem capacidade para 5,4
mil.
Somente
em 2017, a quantidade de mamografias realizadas quase dobrou em relação ao ano
passado. De janeiro à outubro, foram 29.320 procedimentos.
Os
únicos hospitais que oferecem tratamento para o câncer de mama são o Hospital
de Base e os hospitais regionais de Sobradinho, Taguatinga e do Gama. Segundo a
secretaria, após o pedido de exame, o prazo de espera é de dez dias no máximo.
No
Brasil e no mundo
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama é o tipo mais comum
entre as mulheres e também o mais letal, sendo a segunda principal causa de
morte na América Latina. A nível mundial, entre todos os tipos de câncer, o de
mama é o que mais mata mulheres na faixa dos 20 aos 59 anos. A doença também
atinge homens, mas a incidência representa 1% do total.
O
Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou 57.960 novos casos de câncer de
mama no Brasil em 2017. Somente no DF, a previsão é de 1.020 novos casos.
Apesar do aumento das taxas de câncer de mama em mulheres mais jovens, ainda
assim, a faixa etária entre 40 e 50 anos representa 74% do casos. Por isso, a
Sociedade Brasília de Mastologia recomenda a realização da mamografia
anualmente a partir dos 40.
Já
a indicação do Ministério da Saúde é que o exame seja feito a cada dois anos
pelas mulheres com 50 anos ou mais – grupo considerado prioritário. De acordo
com o ministério, no ano passado foram realizadas 4,1 milhões de mamografias em
toda a rede pública do país. Somente na faixa prioritária, foram 2,5 milhões de
exames.
Como
identificar o nódulo?
De acordo com os médicos, o nódulo cancerígeno que pode aparecer no seio
costuma ter formato de “bolinha de gude”, é endurecido e nem sempre dói. A dica
dos oncologista ouvidos pelo G1 é o autoconhecimento. Para perceber qualquer
alteração fisiológica é preciso que a mulher saiba como o próprio corpo
funciona em condições normais.
“Qualquer
mudança no formato, se aparecer caroço, dor, mancha, procure um médico. Se for
insistente, não desaparecer, isso é um sinal de alerta”, disse Márcio Paes.
Além do nódulo, o câncer pode aparecer com outros sintomas, como lesões e
feridas que não cicatrizam, caroços na axila e secreções escuras.
"Hoje
não se recomenda mais fazer o auto exame nos três primeiros dias após a
menstruação. É preciso estar atenta ao próprio corpo sempre", explicou a
Ana Carolina Salles.
Prevenção
A
observação do próprio corpo e o acompanhamento ginecológico de rotina são
imprescindíveis para a identificação de um possível câncer de mama. Para evitar
que ele apareça, o médico recomenda uma vida saudável, mas destaca que é
impossível garantir imunidade.
Alimentar-se
de forma balanceada, consumir preferencialmente produtos orgânicos – livres de
agrotóxicos – fugir da obesidade e praticar exercícios podem ajudar a afastar o
câncer de mama e outros tipos de doença.
Segundo
ele, o fator genético representa 10% de chance do desenvolvimento da doença, mas
não é determinante. “A atividade física também ajuda o câncer a não voltar,
porque os radicais livres protegem o organismo contra células invasoras.
G1