Quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Répteis voadores pré-históricos eram parentes dos dinossauros
Ninho de pterossauros' com
mais de 200 ovos é descoberto na China
Cientistas
brasileiros e chineses anunciaram nesta quinta-feira, 30, a descoberta de 215
ovos fossilizados de pterossauros - répteis voadores pré-históricos que eram
parentes dos dinossauros -, com cerca de 120 milhões de anos, no noroeste da
China.
A
descoberta, de valor incalculável para a ciência, permitirá que os
pesquisadores estudem como esses animais viviam, como se reproduziam e - o mais
importante - como evoluiu seu voo. Os pterossauros foram os primeiros
vertebrados a desenvolver a capacidade de voar.
O
estudo que descreve a rara descoberta acaba de ser publicado na revista
Science. Segundo os autores, até agora haviam sido descobertos apenas oito ovos
de pterossauros, cinco na China e três na Argentina. Desta vez, porém, com uma
coleção de mais de 200 ovos preservados tridimensionalmente - isto é, que não
foram esmagados -, foi possível identificar 16 deles com embriões em diferentes
estágios de desenvolvimento.
De
acordo com um dos autores do artigo, Alexander Kellner, do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a descoberta dos ovos com
embriões dará um impulso sem precedentes no conhecimento sobre os pterossauros.
"Pela
primeira vez temos embriões em três dimensões. Jamais se imaginou que isso
seria possível, porque esses ovos são extremamente frágeis. Eles são flexíveis
e têm uma caixa externa de carbonato de cálcio extremamente fina e, por isso, é
muito difícil que se mantenham preservados por 120 milhões de anos. Quando vi o
material pela primeira vez, em 2015, mal podia acreditar", disse Kellner à
reportagem.
Os
ovos de pterossauros encontrados em 2015 são da espécie Hamipterus
tianshanensis, que havia sido descoberta em 2011 pela mesma equipe, liderada
por Kellner e por Xiaolin Wang, da Academia Chinesa de Ciências. A nova
descoberta também foi feita no mesmo local da primeira, perto da cidade de
Hami, na província chinesa de Xingjiang.
Outra
autora do estudo, Taissa Rodrigues, do Laboratório de Paleontologia da
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o local é um paredão rochoso,
onde ossos e ovos se acumulam em diversas camadas. O trabalho é meticuloso: é
preciso escavar a rocha com um cuidado extremo para não danificar o material.
"Quando
encontramos essa espécie pela primeira vez, vimos que os ossos estavam presentes
em grande quantidade - e havia cinco ovos. A equipe chinesa continuou
realizando escavações até fazer essa nova descoberta vultuosa. Os novos ovos
estão no mesmo estado de preservação, mas, com são mais de 200, isso aumentou a
nossa chance de encontrar embriões - e foi o que aconteceu", disse Taissa.
Segundo
Taissa, quando os frágeis ovos são encontrados esmagados, os embriões não
fornecem tanta informação. Mas, quando eles estão em três dimensões, é possível
tirar inúmeras conclusões. Uma saliência que aparece em um osso, por exemplo, é
rapidamente identificada como o local onde ficavam os músculos e tendões que
controlavam as asas - com isso, os cientistas conseguem reproduzir detalhes
precisos da anatomia do animal e de seus movimentos e hábitos.
"É
incrível ter encontrado esse bloco com tantos ovos e embriões Ovos de
dinossauros são comuns, porque têm uma casca dura como os ovos de galinha. Mas
os dos pterossauros são moles e, por isso, quebram facilmente e apodrecem. Além
disso os ossos dos embriões são muito finos", afirmou Taissa.
"A
ossificação dos embriões ainda é fraca e esses ossos se quebram com muita
facilidade. Acreditamos que essa coleção de ovos possui mais embriões, mas
decidimos não abrir todos eles, já que é possível que no futuro sejam
desenvolvidas técnicas melhores para estudar o interior dos ovos sem precisar
quebrá-los", disse Kellner.
Segundo
Kellner, só condições muito específicas do ambiente podem explicar a
preservação dos frágeis ovos. As características da rocha, segundo ele, mostram
que a região era submetida a fortes torrentes de água.
"A
rocha onde os encontramos não foi o lugar original onde as fêmeas fizeram seus
ninhos. Aquilo foi transportado. Nossa hipótese é que há 120 milhões de anos
havia tempestades constantes de grande porte naquela região. Em algum momento,
um fluxo torrencial levou os ovos e alguns ossos poara esse local, onde eles
foram soterrados muito rapidamente - caso contrário, os ovos não teriam sido
preservados", explicou.
Como
os ovos foram encontrados juntos em tamanha quantidade, Kellner afirma que os
pterossauros certamente formavam colônias para reproduzir - e possivelmente
também para acasalar. "Para encontrarmos esse material, foi preciso
ocorrer uma tempestade perfeita, com muita água e enchentes, exatamente na área
de reprodução dos pterossauros."
De
acordo com Kellner, a abundância do material encontrado continuará gerando
conhecimento sobre os pterossauros por vários anos. Mas os estudos preliminares
já produziram avanços no conhecimento, mostrando, por exemplo, que
provavelmente os pterossauros recém-nascidos exigiam 'cuidados parentais', como
acontece com as aves.
"Conseguimos
constatar em alguns dos embriões uma ossificação diferenciada de ossos
associados às asas e aos membros posteriores. O úmero, que é o principal osso
do braço envolvido com a atividade de voo, não estava ainda tão bem formado
como as pernas", explicou Kellner.
Isso
indicaria que, ao nascer, os pterossauros ainda não eram capazes de voar - e
por isso precisavam da ajuda dos adultos, como acontece com as aves, e
diferentemente do que ocorre com animais como crocodilos e tartarugas. "É
muito provável essa seja a primeira evidência direta de uma necessidade
biológica de cuidados parentais", disse o cientista.
Agência
Estado