Terça-feira, 02 de janeiro de 2017
O vício em jogos de
videogame passou a ser considerado pela primeira vez um distúrbio mental pela
Organização Mundial da Saúde.
A 11ª Classificação
Internacional de Doenças (CID) irá incluir a condição sob o nome de
"distúrbio de games". O documento descreve o problema como padrão de
comportamento frequente ou persistente de vício em games, tão grave que leva
"a preferir os jogos a qualquer outro interesse na vida".
Alguns países já
haviam identificado essa condição como um problema importante para a saúde
pública.
Muitos, incluindo o
Reino Unido, têm clínicas autorizadas a tratar o distúrbio.
A última versão da
CID foi finalizada em 1992, e a nova versão do guia será publicada neste ano.
Ele traz códigos para as doenças, sinais ou sintomas e é usada por médicos e
pesquisadores para rastrear e diagnosticar uma doença.
O documento irá
sugerir que comportamentos típicos dos viciados em games devem ser observados
por um período de mais de 12 meses para que um diagnóstico seja feito. Mas a
nova CID irá reforçar que esse período pode ser diminuído se os sintomas forem
muito graves.
Os sintomas dos
distúrbios incluem:
-ão ter controle de
frequência, intensidade e duração com que joga videogame;
priorizar jogar
videogame a outras atividades;
continuar ou aumentar
ainda mais a frequência com que joga videogame, mesmo após ter tido
consequências negativas desse hábito;
Richard Graham,
especialista em vícios em tecnologia no Hospital Nightingale em Londres
reconhece os benefícios da decisão.
"É muito
significativo, porque cria a oportunidade de termos serviços mais
especializados. Ele coloca (esse distúrbio) no mapa como algo a ser levado a
sério".
Mas, para ele, é
preciso tomar cuidado para não se cair na ideia de que todo mundo precisa ser
tratado e medicado.
"Pode levar pais
confusos a pensarem que seus filhos têm problemas, quando eles são apenas
'empolgados' jogadores de videogame", afirmou.
Segundo Graham, ele
vê cerca de 50 casos de vício em videogame surgindo por ano e seu critério é: o
jogo está afetando atividades básicas, como comer, dormir, socializar ou ir à
escola? Se a resposta for sim, então, pode ser um problema.
"O vício está
dominando o estado real neurológico, o pensamento e as preocupações?" - de
acordo com Graham, essa seria uma boa pergunta para fazer ao diagnosticar um
paciente.
Em 2013, no Manual de
estatísticas e diagnósticos de distúrbios mentais"(DSM, na sigla em
inglês), o distúrbio relacionado a games e videogames era considerado
"condição a ser estudada" - o que significa que ela não era
oficialmente reconhecida.
Muitos países já
adotam até mesmo medidas mais sérias para combater o problema. Na Coreia do
Sul, o governo criou uma lei para proibir o uso de games por pessoas menores de
18 anos entre meia-noite e seis da manhã.
No Japão, os
jogadores são advertidos caso passem mais do que uma certa quantidade de horas
por mês jogando videogame e, na China, a gigante de tecnologia Tencent
determina um limite de quantidade de horas que uma criança pode jogar.
Um estudo recente
feito na Universidade de Oxford sugeriu que, apesar de as crianças no geral
passarem cada vez mais tempo na frente das telas, isso não necessariamente
representa vício.
"As pessoas
acreditam que as crianças estão viciadas em tecnologia e nessas telas 24 horas
por dia a ponto de abdicarem de outras atividades. Mas sabemos que esse não é o
caso", afirmou o pesquisador Killian Mullan.
"Nossas
descobertas mostram que a tecnologia tem sido usada em alguns casos para apoiar
outras atividades, como tarefas de casa, por exemplo, e não excluindo essas
atividades das vidas das crianças", disse ele.
"Assim como nós,
adultos, fazemos, as crianças espalham o uso da tecnologia digital ao longo do
dia, enquanto fazem outras coisas", finalizou.
G1