Domingo, 26 de agosto de 2018
Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP) divulgado este ano em um jornal científico
reforçou a ligação entre o consumo de álcool e o suicídio. Foram analisados 1,7
mil casos na cidade de São Paulo entre 2011 e 2015 a partir de
exames toxicológicos e mais de 30% das vítimas apresentavam diferentes
concentrações de teor alcoólico no sangue. Entre os homens essa porcentagem chegou
a 34,7%. A maior parte dos analisados (49%0 corresponde a adultos jovens, com
idade entre 25 e 44 anos. Dentro dessa faixa etária mais de 61% apresentavam
álcool no sangue.
Desde 2012 a taxa de suicídio em brasileiros de 15 a 29 anos
subiu quase 10% de acordo com a edição de 2010 do Mapa da Violência, feito pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é
a segunda causa mundial de mortes entre pessoas dessa faixa etária -
mais de 90% estão ligados a distúrbios mentais.
Segundo o
psiquiatra Teng Chei Tung, coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, sob efeito do
álcool as pessoas podem apresentar diminuição da capacidade de julgamento, do
senso crítico e do autocontrole, assim como tendem a adotar comportamentos
agressivos. Esse efeito pode ser ainda maior entre os adolescentes.
“O cérebro do
adolescente ainda está em desenvolvimento e os efeitos do álcool são mais
nocivos nessa idade, com impacto ainda maior sobre a tomada de decisões e o
autocontrole. Estamos falando de uma faixa etária em que o imediatismo é mais
evidente e a exposição ao álcool pode ser mais perigosa quando pensamos no
risco para o suicídio”, explicou.
De acordo com
Tung, é possível desenvolver programas educativos sobre o consumo de drogas e
álcool entre os jovens, mas é preciso lembrar que há outros fatores que também
merecem atenção como o bullying e transtornos psiquiátricos, como a depressão.
“É importante lembrar que um transtorno mental como a depressão pode alterar a
percepção que o indivíduo tem da realidade. Por isso, os casos de suicídio não
devem ser encarados como expressão do livre-arbítrio.”
Campanha digital
No próximo
mês será lançada a campanha digital #SAIADASOMBRA, para contribuir para as
atividades educativas da campanha global Setembro Amarelo, que tem como foco o
Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado no próximo dia 10. A mensagem
será lançada em forma de vídeo nas redes sociais com o objetivo de atingir os
mais jovens. A campanha é feita em parceria com o Centro de Valorização à Vida
(CVV) e o laboratório Pfizer.
"O
objetivo desta vez é focar nos adolescentes e jovens que apresentam sinais de
alerta em relação à depressão e à possibilidade de cometer suicídio num prazo
próximo ou mediano. Nossa intenção é alertar, trazer informação e levar as
pessoas a poder identificar esses sinais e, em seguida, ajudar, seja
pessoalmente ou encaminhando para um profissional adequado", disse o
diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.
Segundo ele,
as pessoas que têm sinais ou sintomas depressivos têm um sofrimento inerente à
doença e à condição clínica pela qual estão passando. "É importante
lembrar que as pessoas que têm depressão, de alguma maneira, estão sofrendo e,
para algumas delas, a saída para esse sofrimento é o suicídio. Vamos ter isso
em mente e reconhecer que há mitos que envolvem a doença".
Correia
ressaltou que é necessário ainda eliminar a ideia de que suicídio é uma
consequência natural de uma série de situações na vida da pessoa. "Mais de
90% das pessoas que se suicidaram ou tentaram tem alguma doença envolvida. Não
é questão meramente comportamental. Essa é uma das mensagens mais importantes:
é uma morte evitável. Essa pessoa que tentou ou cometeu suicídio não
precisava ter feito isso se a gente ouvisse, visse e desse atenção",
completou.
O presidente
do CVV, Robert Paris, destacou que a entidade criou um serviço via chat com o
intuito de atrair jovens. Segundo ele, a adesão desse público foi rápida.
"Um dado que nos chamou muito a atenção é que no atendimento em geral
cerca de 5% a 10% das pessoas manifestam intenção ou planejamento para o
suicídio. Parece pouco, mas se pensarmos que temos 3 milhões de contatos por
ano, isso significa um número de pessoas em alto risco e que, felizmente, estão
pedindo ajuda de alguma maneira".
Paris disse ainda
que entre aqueles de 15 a 29 anos, a taxa dos que mostram planejamento ou
intenção para suicídio é de 50%. "O jovem fala abertamente sobre isso. Ele
pede ajuda e demonstra seu desespero. O problema é grave, estamos cada vez mais
buscando voluntários para atender em todos os nossos meios de apoio, mas
especificamente nesse. E buscamos trazer voluntários mais jovens."
Mudanças
bruscas de personalidade, alterações no desempenho escolar ou no trabalho podem
ser sinais de que a pessoa sofre de algum transtorno que pode levar ao
suicídio. Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas,
isolamento familiar ou social, pessimismo, perda ou ganho inesperado de peso,
frequência de comentários autodepreciativos ou sobre morte, ou a doação de
pertences que antes o indivíduo valorizava também são sinais que devem ser
notados.
Fonte: Agência Brasil