Sexta-feira, 15 de maio de 2020
Matéria do ESTADÃO de São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro, de máscara, conversa com simpatizantes na porta do Palácio da Alvorada. Foto: Dida Sampaio/Estadão
BRASÍLIA –
Depois de o Congresso aprovar projeto do governo que autoriza reajustes às
polícias do Distrito Federal, o presidente Jair Bolsonaro disse que “não tem
cabimento” o funcionalismo querer aumento salarial no momento em que o “Brasil
está quebrando” e há risco até mesmo de faltar dinheiro para os pagamentos em
decorrência da crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus.
“Vai faltar dinheiro para pagar
servidor público. E tem servidor que quer ter a possibilidade de ter aumento
neste ano e ano que vem. Não tem cabimento, não tem dinheiro”, disse Bolsonaro,
que tem até 27 de maio para sancionar a lei que autoriza o repasse direto R$ 60
bilhões aos Estados e municípios e cumprir a promessa feita ao ministro da
Economia, Paulo Guedes, de barrar a possibilidade de reajustes ao funcionalismo
até o fim de 2021. Essa é uma das contrapartidas exigidas pela equipe econômica
a governadores e prefeitos em troca da ajuda federal.
“O Brasil está quebrando. E
depois de quebrar não é como alguns dizem a economia recupera. Não recupera.
Vamos ser fadados a viver um país de miseráveis, como alguns países da África
subsaariana”, disse Bolsonaro hoje.
Ao falar com os jornalistas, o
presidente usava uma máscara da Polícia Militar do Distrito Federal. Ao lado
dele, também com máscara da PM do DF, estava o titular da Secretaria-Geral,
ministro Jorge Oliveira, que é da reserva da PM do DF e também será beneficiado
com o aumento.
Como o Estadão mostrou, o
presidente segura os vetos à possibilidade de aumento para servidores públicos
para atender ao pedido do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB)
de conceder reajustes de 8% a 25% aos policiais militares e civis do DF.
Na noite de quarta-feira, 13,
deputados e senadores aprovaram o projeto de lei do Congresso Nacional que
autoriza a recomposição salarial das polícias do DF, pago com dinheiro da União
pelo Fundo Constitucional do DF. O custo estimado é de R$ 505 milhões por ano.
O texto agora depende da sanção do presidente.
O presidente diz agora que vai
vetar a blindagem feita pelo Congresso a uma série de categorias, que
continuaram tendo permissão para ter reajustes até 2021. No entanto, como
mostrou o Estadão/Broadcast, o projeto foi aprovado com o aval do próprio
presidente, que deu autorização para poupar as carreiras, principalmente as de
segurança, mesmo atropelando a orientação do ministro da Economia.
Após a votação, Bolsonaro mudou
de postura e fez promessas públicas, ao lado de Guedes, para vetar a lista de
categorias que ficariam de fora do congelamento de salários. Para cumprir com a
promessa, o presidente terá de rejeitar o aumento para todas as categorias,
pois as flexibilizações constam todas em um único parágrafo do artigo 8º do
projeto.
No projeto, foram poupados do
congelamento servidores da área de saúde (como médicos e enfermeiros),
policiais militares, bombeiros, guardas municipais, policiais federais,
policiais rodoviários federais, trabalhadores de limpeza urbana, de assistência
social, agentes socioeducativos, técnicos e peritos criminais, professores da
rede pública federal, estadual e municipal, além de integrantes das Forças
Armadas.
Apelo a governadores
A menção do
presidente aos servidores públicos foi feito quando ele mais uma vez criticou
medidas de isolamento que adotadas por governadores e prefeitos durante a
pandemia do coronavírus. Bolsonaro disse que os chefes dos executivos estaduais
e municipais deveriam se desculpar e fez um apelo para que eles revejam a
política de distanciamento social, recomendada pelas autoridades sanitárias
como forma de evitar o colapso do sistema hospitalar.
“O apelo que faço aos
governadores. Reveja essa política, eu estou ponto para conversar. Vamos
preservar vida? Vamos. Mas o preço lá na frente serão centenas demais de vida
que vão perder por causa dessas medidas absurdas de fechar tudo”, disse
afirmando que governadores e prefeitos deveriam “se desculpar e fazer a coisa
certa.”
Bolsonaro criticou o lockdown ,
o isolamento total, dizendo que a medida é o “caminho do fracasso”. “O Brasil
está se tornando um país de pobre. O que eu falava lá atrás que era
esculachado, estão vendo a realidade agora aí para onde está indo o Brasil. Vai
se chegar a um ponto que o caos vai se fazer presente aqui. Essa história de
lockdown, vão fechar tudo, não é esse o caminho. Esse é o caminho do fracasso,
quebrar o Brasil”, disse.
Por: ESTADÃO