Terça-feira, 20 de dezembro-12 de 2022
Antes da soltura de Cabral, o advogado Daniel Bialski afirmou que o
ex-governador não tem pretensões políticas e agora "quer ficar com a
família".
O ex-governador Sérgio Cabral ao deixar o presídio da PM, em Niterói (Foto: Reprodução)
O ex-governador Sérgio Cabral deixou a unidade prisional da Polícia
Militar, em Niterói, na noite desta segunda-feira, após seis anos na cadeia.
Ele ficou 2.223 dias preso e, agora, estará em prisão domiciliar, monitorado
por tornozeleira eletrônica. Cabral é o último réu da Operação Lava-Jato a
deixar a prisão. O alvará de soltura chegou ao presídio por volta das 20h15,
levado por um oficial de Justiça. O ex-governador deixou a unidade por volta
das 20h30, já usando a tornozeleira. Cabral, vestido com calça jeans e uma
camiseta cinza, saiu dentro de um carro, sem falar com a imprensa. Às 21h10, o
ex-governador chegou ao prédio em Copacabana onde cumprirá a prisão domiciliar.
O imóvel, de aproximadamente 80 metros quadrados, tem vista para o mar.
Antes da soltura de Cabral, o advogado Daniel Bialski afirmou que o
ex-governador não tem pretensões políticas e agora "quer ficar com a
família". O ex-governador saiu da unidade prisional em Niterói já usando a
tornozeleira eletrônica.
— Obviamente, ele está feliz. Depois de tanto tempo, vai poder ficar com
os filhos e neto. É o que ele mais deseja — afirmou Bialski.
Segundo os advogados, a defesa manterá a estratégia de pedir anulação de
processos por irregularidades no curso da ação ou de incompetência dos juízes,
como Marcelo Bretas e do ex-juiz Sergio Moro.
— Esses são casos que foram anulados e serão reiniciados por causa de
incompetência. Ele terá nova chance de se explicar e dar a versão que melhor
seja de interesse dele. A Justiça não pode ter dois pesos e duas medidas. Todos
os outros acusados da operação Lava-Jato foram soltos muito antes. A soltura
determinada agora não é uma declaração de impunidade ou inocência. Não foi
apenas o Supremo que entendeu que não ser possível que a prisão preventiva dure
6 anos — afirmou.
O filho Marco Antonio Cabral, eleito segundo suplente a deputado federal
pelo MDB este ano, acompanhou os trâmites burocráticos da soltura do
ex-governador. Marco Antônio chegou à unidade prisional por volta das 17h.
Durante a espera, os advogados de Sérgio Cabral chegaram a pedir pizzas e
refrigerantes, já que não haviam almoçado. O lanche foi entregue na porta da
prisão.
A única investigada com quem Cabral poderá ter contato será sua
ex-esposa Adriana Ancelmo, uma vez que os dois têm filhos em comum. Uma
decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) proíbe que ele tenha
contato com antigos integrantes de governo que foram alvos de processos.
Na lista de vetados, ainda estão os ex-secretários Hudson Braga (Obras),
Wilson Carlos (Governo), Sérgio Côrtes (Saúde) e Régis Fichtner (Casa Civil).
Todos estão soltos.
— Ele não pode se comunicar com qualquer investigado ou testemunha. Essa
será a primeira orientação que darei para ele — explicou Bialski. — Na prisão
domiciliar, ele tem direito a usar a internet, mas ele não vai ter contato com
ninguém, apenas com seus familiares.
Com 24 condenações, a maior parte por corrupção, e penas que somam mais
de 400 anos, Cabral ficará instalado num apartamento em Copacabana, com vista
privilegiada para a praia, dez vezes maior do que a cela de oito metros
quadrados em que estava.
O ex-governador é acusado de comandar uma organização criminosa que
fraudava licitações e cobrava propina. Em depoimento ao juiz Sérgio Bretas, da
7ª Vara Federal Criminal do Rio, em 2019, ele admitiu a corrupção em seu
governo. “Esse foi meu erro de postura, apego a poder, dinheiro... é um vício”,
disse.
Por: O Globo