Domingo, 14 de janeiro-(01) de 2024 " " ( ) :
Matéria de LEONARDO VIECELI - Folhapress
Foto: Geraldo Bubniak/Agência Brasil
A
inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo), fechou o acumulado de 2023 em 4,62%, apontou nesta
quinta-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a
menor alta em três anos, desde 2020 (4,52%).
Com o resultado, o IPCA encerrou
2023 abaixo do teto de 4,75% fixado para a meta de inflação perseguida pelo BC
(Banco Central). O índice havia estourado o limite superior da meta nos dois
anos anteriores, em 2022 (5,79%) e 2021 (10,06%).
Apesar de perder força, a
inflação de 2023 ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro.
Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam variação de 4,55% para o
acumulado do ano passado, que marcou o início do governo Luiz Inácio Lula da
Silva (PT).
No recorte mensal, o IPCA
acelerou de 0,28% em novembro para 0,56% em dezembro, segundo o IBGE. A nova
taxa veio acima das projeções do mercado.
Analistas esperavam variação de
0,50% no último mês de 2023, conforme a Bloomberg. Ainda assim, a marca de
0,56% é a menor para o período de dezembro desde 2018 (0,15%).
ALIMENTOS ALIVIAM RESULTADO DO ANO
O IPCA perdeu força no ano passado com a trégua dos alimentos. O alívio veio
após a disparada da inflação desses produtos em meio aos reflexos da pandemia,
da Guerra da Ucrânia e de choques climáticos.
Em 2023, o aumento da oferta de
mercadorias a partir da ampliação da safra agrícola ajudou a frear os preços da
comida. Também houve maior disponibilidade de alimentos como carne e leite no
país.
“A safra do ano passado foi muito
boa. Melhorou a inflação e melhorou o PIB também”, afirma o economista André
Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas).
O grupo alimentação e bebidas, que
tem o maior peso no cálculo do IPCA, subiu 1,03% no ano passado. Isso
representa uma desaceleração ante 2022, quando a alta havia sido de 11,64%.
O resultado menor está associado
à queda dos preços da alimentação no domicílio (-0,52%). Foi a primeira redução
desse subgrupo desde 2017 (-4,85%).
O IBGE destacou as baixas do óleo
de soja (-28%), do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%) no ano
passado. O óleo de soja teve a maior deflação (queda) entre os 377 subitens
(produtos e serviços) que compõem o IPCA.
“O grupo de produtos alimentícios
ficou abaixo do resultado geral e ajudou a segurar o índice de 2023. Houve
quatro quedas seguidas no meio de ano, o que contribuiu para esse resultado”,
disse André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.
“A queda na alimentação no
domicílio reflete as safras boas e a redução nos preços das principais
commodities no mercado internacional, como a soja e o milho”, completou.
GASOLINA PRESSIONA EM 2023
Por outro lado, o grupo dos transportes exerceu a maior pressão no IPCA de
2023. O segmento acumulou alta de 7,14% no ano passado, após deflação de 1,29%
em 2022.
Com o novo resultado, gerou
impacto de 1,46 ponto percentual no índice, o principal entre os grupos.
Nos transportes, destaca-se a
alta da gasolina (12,09%), que é o subitem com o maior peso no IPCA. O
combustível foi o responsável pelo principal impacto individual no índice em
2023 (0,56 ponto percentual).
A pressão da gasolina veio na
esteira da retomada da cobrança de tributos que haviam sido congelados pelo
governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições de 2022.
“Vale lembrar que a gasolina teve
o impacto da reoneração dos tributos federais e das alterações nas cobranças do
ICMS”, afirmou Almeida.
Outras altas relevantes nos
transportes vieram do emplacamento e da licença (21,22%) e das passagens aéreas
(47,24%).
O centro da meta de inflação,
referência para a política monetária do BC, estava em 3,25% em 2023. O
intervalo de tolerância era de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para
menos (1,75%).
Segundo André Braz, do FGV Ibre,
outro fator que ajuda a explicar a inflação menor em 2023 é o impacto dos juros
elevados. O crédito caro desestimulou a demanda por bens duráveis e, assim,
freou os aumentos dos preços, diz o economista.
Bens duráveis são mercadorias de
maior valor agregado, cuja venda está associada a financiamentos, como veículos
e eletrodomésticos. Ainda de acordo com Braz, a desaceleração dos serviços
completa a lista de componentes que atenuaram o IPCA em 2023.
O índice de inflação dos serviços
foi de 6,22% no ano passado, abaixo da alta de 7,58% em 2022. Já o indicador de
preços monitorados, que inclui combustíveis e energia elétrica, subiu 9,12% em
2023, acima da deflação de 3,82% do ano anterior.
ALIMENTOS PUXAM ALTA EM DEZEMBRO
De novembro para dezembro, a aceleração do IPCA mensal (de 0,28% para 0,56%)
veio acompanhada de alta nos nove grupos de bens e serviços pesquisados pelo IBGE.
A principal pressão veio de
alimentação e bebidas. O segmento subiu 1,11% no último mês de 2023, mais do
que em novembro (0,63%). O impacto no IPCA foi de 0,23 ponto percentual.
A situação de dezembro difere da
verificada no acumulado do ano, quando os alimentos aliviaram o índice. André
Almeida, do IBGE, associou o resultado mensal aos efeitos do clima.
Segundo ele, a produção de
alimentos costuma ser dificultada na reta final do ano por temperaturas mais
elevadas e chuvas intensas. No final de 2023, o Brasil viveu episódios
extremos, como ondas de calor no Sudeste, seca no Norte e alagamentos no Sul.
“Os fatores climáticos acabaram
influenciando os alimentos”, afirmou Almeida.
A alimentação no domicílio subiu
1,34% em dezembro, mais do que em novembro (0,75%). Houve altas da
batata-inglesa (19,09%), do feijão-carioca (13,79%), do arroz (5,81%) e das
frutas (3,37%). Já o leite longa vida recuou pelo sétimo mês consecutivo
(-1,26%).
A passagem aérea, que integra o
grupo dos transportes, registrou inflação de 8,87%. A alta foi menor do que a
de novembro (19,12%). Mesmo assim, a passagem teve a maior contribuição
individual para o avanço do IPCA em dezembro (0,08 ponto percentual).
ALERTA NO FIM DE 2023
Parte dos analistas avalia que o resultado do mês passado, que ficou acima do
esperado, acende alerta para o comportamento da inflação em 2024.
Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, diz que o IPCA de
dezembro “serve de advertência”, apesar de a alta estar associada a choques
pontuais.
“A reversão do choque favorável
de alimentos, a diminuição do efeito da deflação dos bens industriais e a
manutenção do mercado de trabalho aquecido são fatores que demandam cautela na
condução da política monetária, em especial num ambiente de continuidade de
crescimento real de gastos”, afirma.
Em 2024, a expectativa de
analistas é de que o IPCA desacelere a 3,90% no acumulado do ano, conforme a
mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (8) pelo
BC.
O centro da meta é de 3% em 2024,
2025 e 2026, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (4,5%) ou para
menos (1,5%).
Conforme analistas, o cenário
deste ano deve trazer alterações em relação a 2023. Uma das prováveis mudanças
abrange os alimentos, cujos preços tendem a subir em 2024 após a trégua no ano
passado.
O principal fator por trás dessa
estimativa é o El Niño, que eleva os riscos de estragos no campo. O fenômeno
climático ameaça reduzir a oferta de alimentos, com eventual repasse para os
preços finais. Assim, a comida pode impedir uma desaceleração mais intensa do
IPCA no acumulado de 2024.
Para André Cordeiro, economista
sênior do banco Inter, o resultado da inflação em dezembro “não foi muito
animador”. Ele ainda vê sinais de continuidade do processo de desinflação, mas
considera que alguns riscos começam a aparecer no horizonte, principalmente no
que diz respeito a núcleos de inflação e preços de serviços.
INPC FECHA 2023 EM 3,71%
O IBGE também informou nesta quinta que o INPC (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor) fechou 2023 com variação acumulada de 3,71%, abaixo do resultado de
2022 (5,93%).
O INPC é usado como referência
para correção de benefícios como aposentadorias e seguro-desemprego. O
indicador reflete os preços de bens e serviços com maior peso no consumo das
famílias de renda menor (de um a cinco salários mínimos).
Por: *LEONARDO
VIECELI/Folhapress