Segunda-feira, 05 de agosto-(08) de 2024
Matéria de * YURI EIRAS (RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
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Foto: Reprodução/Redes Sociais |
Morreu
nesta segunda-feira (5) aos 68 anos o ex-meio-campista do Flamengo Adílio. Ele
estava internado desde julho em um hospital na Freguesia, em Jacarepaguá, zona
oeste do Rio de Janeiro, para tratamento de um câncer no pâncreas.
A
morte foi confirmada pelo Flamengo em uma publicação nas redes sociais. “Hoje,
nos despedimos do nosso Camisa 8, mas para nossa sorte, assim como o traçado do
número eternizado, Adílio é infinito”, escreveu o perfil do clube.
Adílio
de Oliveira Gonçalves nasceu e cresceu perto da sede do Flamengo, na Gávea,
zona sul do Rio de Janeiro. Era morador da Cruzada São Sebastião, um conjunto
habitacional no Leblon construído em 1955 sob influência de dom Hélder Câmara.
O bloco de prédios foi erguido para receber ex-moradores da Praia do Pinto,
favela entre a Lagoa e o Leblon que foi alvo de incêndio em 1969, após anos de
ameaça de despejo.
Adílio,
terceiro dos seis filhos de dona Laíde Gonçalves, era ainda na infância uma
estrela do futebol de várzea do bairro. Seu apelido era Pelé. Mesmo mais novo,
brilhava nas peladas defendendo o Sete de Setembro, time da Cruzada, e o Royal,
time de futebol de areia da praia do Leblon.
Instigado
pelo melhor amigo de infância, Júlio César, precisou pular o muro da sede do
Flamengo, aos 11 anos, para pedir as primeiras oportunidades na escolinha de
futebol de salão. Não era sócio do clube.
Antes
de amigo, Júlio César foi o antagonista de Adílio nas peladas de juventude Júlio
era da Praia do Pinto e Adílio da Cruzada. Juntos se tornaram profissionais e
defenderam o Flamengo nas décadas de 1970 e 1980.
Ponta-esquerda,
Júlio César tinha o apelido de Uri Geller, referência ao ilusionista israelense
famoso por supostamente ser capaz de entornar colheres com o poder da mente.
Adílio
foi alçado aos profissionais em 1975, na mesma temporada de Tita e Andrade. Já
figuravam nos profissionais Zico e Júnior. Anos depois surgiria o lateral-direito
Leandro.
Os
jovens das categorias de base viraram a espinha dorsal da maior geração da
história do Flamengo, responsável pelo maior período de conquistas do clube:
uma Libertadores (1981), um Mundial de Clubes (1981), três Campeonatos
Brasileiros (1980, 1982 e 1983) e quatro Campeonatos Cariocas (1978, dois em
1979, e 1981).
Leandro,
Júnior e Zico foram titulares da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982.
Adílio foi convocado apenas duas vezes para defender o Brasil.
Camisa
8 lembrado pela impressionante visão de jogo e pelos bons passes e lançamentos,
Adílio é o primeiro entre os titulares da histórica formação rubro-negra de
1981 a morrer a escalação que ficou famosa tinha Raul; Leandro, Marinho, Mozer
e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
Em
1981, o Flamengo conquistou três títulos Libertadores, Carioca e Mundial em 21
dias.
No
segundo dos três jogos da final da Libertadores de 1981, contra o Cobreloa do
Chile, no estádio de Santiago, Flamengo perdeu por 1 a 0 e Adílio foi alvo de
uma cotovelada do adversário Mario Soto, saindo de campo com um profundo corte
no supercílio.
Três
dias depois, na finalíssima, no Uruguai, Anselmo, um atacante reserva, entrou
apenas para dar um soco em Soto e vingar Adílio, sob ordens do técnico Paulo
César Carpegiani. O Flamengo venceu por 2 a 0 e foi campeão.
Na
volta para o Rio, Adílio e Anselmo foram os mais celebrados pela torcida, ao
lado de Zico.
Na
final do Campeonato Brasileiro de 1983 contra o Santos, despedida de Zico antes
da transferência para a Udinese, da Itália, Adílio roubou a cena e foi o
craque. Marcou o terceiro gol e apresentou atuação de gala para 155.523
pessoas, naquela que é a partida de maior público da história do Campeonato
Brasileiro.
Depois
do jogo, foi à lateral do campo e arremessou a camisa 8 rubro-negra para os
amigos da Cruzada que assistiam ao jogo na geral. “Muitas crianças me pediram
[um gol] e foi nelas que pensei no momento do gol, uma maneira de lhes dar um
pouco de alegria em suas vidas sofridas e difíceis”, disse a repórteres após a
conquista.
Em
1983, teve sua história contada em episódio do Caso Verdade, programa da TV
Globo que apresentava dramas baseados em fatos reais. É mencionado na canção
“Saudação às Favelas”, de Pedro Butina e Sergio Fernandes, gravada por Bezerra
da Silva.
Adílio,
Andrade e Leandro foram os remanescentes da geração de 1981 nos anos seguintes.
Mas quando o clube conquistou a Copa União de 1987, com Zico de volta, Adílio
já não fazia mais parte do elenco. Seus feitos, contudo, ficaram marcados:
Adílio é até hoje o terceiro jogador que mais atuou com a camisa do Flamengo.
Foram 617 jogos oficiais, atrás de Zico (732) e Júnior (875). Em 2019, ganhou
um busto de bronze na sede da Gávea.
Tornou-se
um andarilho da bola após a saída da Gávea. Jogou no Coritiba, por clubes
pequenos de Santa Catarina e do Rio de Janeiro. Fora do país, passou por
Barcelona de Guayaquil, do Equador, e Alianza Lima, do Peru.
Em
1989, em movimento pouco comum, deixou o futebol de campo para atuar no futebol
de salão. Fez parte da seleção brasileira que venceu a Copa do Mundo de Futsal
em 1989, na Holanda. De volta aos campos, encerrou a carreira aos 41 anos, no
Barra Mansa, do Rio de Janeiro.
Foi
treinador de clubes pequenos no Rio e na Arábia Saudita. Também foi técnico e
coordenador das divisões de base do Flamengo até 2008. Em 2010, foi candidato a
deputado estadual e não foi eleito.
Em
2020, ficou quase um mês internado com gastroenterite e desidratação. Voltou ao
hospital este ano, em março, devido a dores na coluna, abdômen e estômago.
Estava em tratamento de um câncer no pâncreas.
Por: * YURI
EIRAS (RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)