Sábado, 16 de novembro-(11) de 2024
Matéria da Agência Brasil
Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica indicam
redução de 55% no desmatamento do bioma no primeiro semestre de 2024 em
comparação com o mesmo período do ano anterior. De janeiro a junho, foram
desmatados 21.401 hectares, ante 47.896 em 2023, segundo levantamento divulgado
pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o MapBiomas.
Apesar da redução, a SOS Mata Atlântica avalia que o impacto do
desmatamento permanece alarmante e inaceitável, especialmente neste bioma que é
tão devastado e ameaçado. A área destruída nos seis primeiros meses do ano
equivale a cerca de 20 mil campos de futebol. Segundo a fundação, embora
viável, a meta de zerar o desmatamento no bioma ainda é um desafio.
A queda no desmatamento decorre, em grande parte, do fortalecimento da
fiscalização, do corte de crédito para desmatadores ilegais e do uso de
embargos remotos, que são restrições aplicadas a áreas desmatadas detectadas
por monitoramento a distância, impedindo seu uso comercial.
“A redução do desmatamento é resultado do fortalecimento e da aplicação
das políticas públicas ambientais brasileiras, principalmente a volta da
fiscalização ambiental e o fortalecimento do Ministério do Meio Ambiente e do
Ibama”, diz o diretor executivo da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes
Pinto. O engenheiro agrônomo afirmou que os dados atuais representam um alívio
temporário, mas ressaltou a necessidade contínua de vigilância e ação.
Nas áreas de encraves – fragmentos de vegetação nativa da Mata Atlântica
localizados em limites com outros biomas como Cerrado, Caatinga e Pantanal,
onde o desmatamento chamou a atenção ao longo do ano passado –, a redução
chegou a 58%. Para Guedes Pinto, esta é uma ótima notícia.
“No ano passado, houve uma queda na região contínua de Mata Atlântica e
aumento nos encraves, e este ano teve diminuição nessas duas regiões. Isso se
deve também ao plano de combate ao desmatamento no Cerrado, a ações na Caatinga,
a toda uma estratégia nacional de combate ao desmatamento”, acrescenta.
Desmatamento zero
De acordo com o MapBiomas, restam 24% da cobertura florestal original da
Mata Atlântica. A proporção está abaixo do limite mínimo aceitável para
conservação da cobertura, que é, segundo estudo publicado na revista Science,
de 30%. Além disso, as florestas naturais estão restritas a espaços
extremamente fragmentados – a maior parte não chega a 50 hectares – e, em 80%
dos casos, estão em propriedades privadas.
Guedes Pinto lembra que, para o Brasil cumprir os compromissos firmados
no Acordo de Paris, deve alcançar o desmatamento zero em todos os biomas até
2030. Para o engenheiro agrônomo, a Mata Atlântica tem o potencial de ser o
primeiro bioma brasileiro a alcançar essa meta. “Isso porque é onde o
desmatamento é relativamente menor e é uma região com bastante governança”,
disse.
Ele observa que a impunidade diante dos crimes ambientais ainda é um
enorme obstáculo para que tais metas sejam atingidas. “O caminho possível é
continuar a fiscalização e a aplicação dos mecanismos de comando e controle,
que são as punições para a ilegalidade.” Guedes Pinto destaca que é preciso
afirmar a lei da Mata Atlântica politicamente, para órgãos federais, estaduais
e municipais. “A última coisa são os incentivos econômicos para manter a
floresta de pé e para a restauração”, afirma o engenheiro, que cita políticas
públicas, como pagamento por serviços ambientais, além de instrumentos de
mercado, como o mercado de carbono.
Queimadas
“As respostas das autoridades têm sido insuficientes, como vimos com
relação às queimadas criminosas que este ano atingiram níveis assustadores”,
ressalta a diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.
Para Malu, a falta de justiça quase uma década depois do dano ambiental
decorrente do rompimento da barragem de minério em Mariana, Minas Gerais, é
exemplo dessa negligência institucional.
Guedes Pinto aponta ainda o enorme impacto dos incêndios a Mata
Atlântica. Segundo ele, a área de florestas queimadas foi maior do que a área
desmatada no ano passado. “A queimada não resulta no desmatamento, mas leva à
degradação da floresta. Queimadas sucessivas podem acabar levando os pequenos
fragmentos a desaparecer”, enfatiza.
As queimadas têm grande impacto sobre a biodiversidade, na emissão de
gás de efeito estufa, além de degradar a floresta. “Ela pode entrar em uma rota
inclusive de morte. Por isso, é preciso proteger as áreas que foram impactadas
pelas queimadas, observar como vão reagir para se recuperar. O impacto
[imediato] é menor que o do desmatamento, mas, no médio e longo prazos, pode ser
até parecido.”
Por: Agência Brasil