Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Matéria do Portal G1
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Foto: Reprodução/ Web |
Acompanhar o pai e o tio quase
morrerem de complicações de dengue há alguns anos não assustou Lia Salomão
tanto quanto a epidemia de 2024, quando ela e parte da família passaram sufoco
com a doença que matou mais do que a covid-19.
“Hoje posso dizer que estou neurótica, e essa neurose é uma onda
de 2025, acho que ela não existia 2024, porque não tínhamos essa noção de que
era tão fácil pegar dengue”, comenta a moradora de São Paulo. “Parecia que se
eu estivesse passando um repelente e não deixando água no pratinho do vaso de
plantas, estava bom, mas na realidade não é bem assim.
Além da fadiga e desgaste físicos sentidos por mais de uma semana,
Salomão conta ter sofrido com disfunção cognitiva pós-viral, como é conhecida a
falta de concentração após a cura de uma doença como a dengue, além da perda de
cabelo – outro efeito colateral comum. “Ambos foram sensações muito ruins, mas
a terrível foi com a minha avó, de 91 anos, que já bebia pouca água e passou a
beber ainda menos, por conta do gosto ruim que fica com qualquer líquido;
pensei que ia perdê-la a qualquer momento.”
A população acima dos 60 anos é a mais vulnerável à dengue, constituindo
a maior parte das 6.068 mortes causadas por ela em 2024. Esse ano presenciou a
pior epidemia já registrada no Brasil, quando mais de 6,6 milhões contraíram a
doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti. O triste recorde anterior cabia
aos anos de 2015 e 2023, quando mais de 1,649 milhão adoeceram.
Os números deste começo de 2025, no entanto, preocupam não apenas
cidadãos como Lia e sua família, que incluíram o uso intenso de repelentes e
inseticidas na rotina diária matinal, mas autoridades e epidemiologistas.
Especialistas concordam que o susto vivido em 2024 deixou as instituições mais
preparadas para o pior, porém alertam que o ano corrente deve ser o pior ano da
história. Até porque o complexo pacote de medidas contra o mosquito e o vírus
que transmite só deverá estar totalmente operacional em 2026.
Números alarmantes em São Paulo
Em meados de janeiro, o governo paulista anunciou a criação de uma sala
de emergência para o monitoramento dos casos de dengue no estado, que nas duas
primeiras semanas de 2025 apresentou números piores do que no anterior. Segundo
o painel de arboviroses do governo de São Paulo, até o sábado (18/01) o total
de casos até era 43.817, contra 29.042 no começo de 2024: um aumento de 51% que
preocupa as autoridades.
“O nível de alerta é muito alto, pois tivemos não só uma mudança de
quadro epidêmico, mas também um novo sorotipo circulando. Durante todo 2024, a
predominância foi do vírus da dengue 1 e 2, e já no final do ano houve a
introdução do dengue 3, o que é muito preocupante”, adverte a epidemiologista
Regiane de Paula, à frente da Coordenadoria de Controle de Doenças da
Secretaria Estadual de Saúde de SP.
Ela explica que, ao contrair a doença com um determinado tipo do vírus,
o paciente fica mais imune a este tipo, mas ainda suscetível aos demais tipos
de vírus da dengue. O retorno do tipo 3 ao Brasil, após 17 anos erradicado,
representa, desta forma, uma chance 33% maior de se contrair a doença
novamente. O fenômeno aciona o alarme entre as autoridades.
Pacote agressivo
A contingência da dengue nos últimos anos é afetada pela baixa oferta da
vacina. A única disponível no sistema público atualmente é a japonesa Qdenga,
produzida pelo laboratório Takeda. No entanto, o volume de produção está longe
do suficiente para atender a população brasileira.
O Ministério da Saúde informou ter adquirido toda a produção da vacina
para 2025 que o laboratório forneceu, 9,5 milhões de doses. Com a aplicação de
duas doses por pessoa, aproximadamente 4,25 milhões de brasileiros receberão o
imunizante. “Claro que é um passo adiante, mas ainda é muito pouco para o
tamanho da população do Brasil. Não vamos ter ilusão que a vacina vá bloquear a
circulação do vírus em 2025” reconhece Rivaldo da Cunha, secretário adjunto do
Ministério da Saúde para Vigilância em Saúde e Ambiente.
Com informações do Portal G1