Segunda-feira, 23 de junho-(06) de 2025
Matéria do Elcio Nunes, com PBAGORA
Enquanto o mundo
debate política, tecnologia, avanços científicos e disputas ideológicas, há
milhões de pessoas lutando simplesmente pelo direito de comer hoje. A dor da
fome é uma dor silenciosa. Não estampa capas de jornais diariamente, não toma
os grandes palcos do debate público. Mas ela segue presente, corroendo vidas,
enfraquecendo corpos, silenciando futuros. E ainda que os homens não a ouçam, a
fome segue gritando — diante de Deus.
Segundo dados
recentes das Nações Unidas, 735 milhões de pessoas — aproximadamente 9% da
população mundial — vivem sob fome crônica. Outros 2,3 bilhões de seres humanos
— quase 29% da humanidade — enfrentam insegurança alimentar: vivem sem saber o
que comerão amanhã ou com dietas muito aquém do necessário. E, em situações de
fome aguda, quase 300 milhões sobrevivem sob ameaça constante em áreas
assoladas por guerras, crises econômicas e desastres climáticos.
As regiões mais
atingidas continuam sendo a África Subsaariana, o Sul da Ásia e partes da
América Latina e Caribe. Ali, a fome não é estatística: é o rosto magro de uma
criança, o desespero de uma mãe que reparte migalhas, o vazio nos olhos de
jovens privados de oportunidades por pura falta de nutrição.
Para muitos,
sobretudo em nações desenvolvidas, esse drama parece distante. Afinal, sua
“fome” limita-se ao intervalo entre refeições. Resido hoje nos Estados Unidos
e, por vezes, é difícil explicar a um nativo o que representa a fome extrema.
Contudo, ao caminhar entre comunidades de imigrantes que aqui chegaram fugindo
da miséria, percebo que a fome não é um conceito abstrato: é uma cicatriz na
alma de milhões.
Para dar mais
legitimidade a estas palavras, tomei uma decisão pessoal: submeti-me, por
alguns dias, a um jejum voluntário. Quis sentir, ainda que de forma simbólica,
a fraqueza que cresce com o vazio do estômago, a mente que se ocupa apenas com
a busca de alimento, o corpo que vai se enfraquecendo lentamente. Foi apenas
uma sombra daquilo que tantos vivem diariamente, sem opção de escolha. Mas
suficiente para dar peso a cada linha que escrevo.
O maior paradoxo,
porém, é este: o planeta produz hoje comida suficiente para alimentar entre 9 e
10 bilhões de pessoas, embora nossa população atual seja de 8,1 bilhões.
O problema, portanto, não está na capacidade de produção, mas na má
distribuição, na indiferença, no egoísmo coletivo e nas escolhas políticas e
econômicas que priorizam interesses menores em detrimento da dignidade humana.
Não faltam
tecnologias, terras aráveis ou conhecimento. Falta solidariedade. Falta
compaixão. Falta vontade.
Guerras
desnecessárias, vaidades de governantes, políticas míopes e disputas de poder
perpetuam um quadro de miséria vergonhoso para a nossa civilização. Enquanto
bilhões são gastos em armamentos, milhões morrem por não terem o que comer.
Mas um dia — e todos
sabemos disso — estaremos diante do Supremo Juiz. E nesse instante, a pergunta
será simples e direta:
“O que fizeste pelo teu irmão nos teus dias sobre a Terra?”
Que essa pergunta não
fique apenas como eco distante do futuro, mas arda em nossa consciência desde
já. Ainda há tempo de agir.
Por: Elcio Nunes, Cidadão Brasileiro com PBAGORA