Domingo, 05 de outubro-(10) de 2025
Matéria de José Maria Tomazela (conteúdo estado)
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Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde DF |
Uma a cada
cinco garrafas de uísque ou de vodca vendida
no Brasil é falsificada. O dado consta em um estudo realizado em
2024 pela Euromonitor International para a Associação Brasileira de Bebidas
Destiladas (ABBD).
O
número de notificações por suspeita de intoxicação por metanol cresce a cada
dia no Brasil. Nesta sexta-feira, 3, Bahia informou o registro da primeira
morte suspeita de contaminação pela substância.
As
ocorrências começaram a surgir no Estado de São Paulo e já atingem outras
regiões.
Além
da Bahia, há 53 casos em São Paulo, 6 em Pernambuco e 1 no Distrito Federal e
no Paraná.
O
levantamento da Euromonitor International ainda aponta que 28% do volume de
bebidas destiladas comercializadas no Brasil são objetos de crimes como
sonegação fiscal, contrabando ou descaminho, falsificação e produção sem
registro.
Os
dois principais métodos de falsificação, comumente encontrados no mercado, são
o “refil” de garrafas de marcas reconhecidas utilizando produtos de baixo custo
ou a falsificação a partir do uso de álcool impróprio (metanol) para consumo
humano, colocando em risco a saúde dos consumidores.
A
discrepância de preços é o principal atrativo: durante o estudo, foi
identificado que produtos falsificados são, em média, 35% mais baratos. Em
venda online, o preço do uísque falsificado chega a ser até 48% mais barato que
o original.
João
Garcia, gerente de consultoria da Euromonitor, aponta fatores que mantêm o
ilícito relevante na categoria de bebidas: a alta carga tributária, a
dificuldade de fiscalização em grandes territórios, a sofisticação crescente
das redes criminosas e a disseminação de canais de venda informais e digitais
que ajudam no escoamento desses produtos.
A
Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levantou a possibilidade
de que o metanol utilizado para adulterar bebidas possa ter origem em
distribuidoras de combustíveis ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC)
que, após uma operação policial que coibiu o uso de metanol no combustível,
teria repassado o produto para destilarias e distribuidoras de bebidas. Em
coletiva no início da semana, o governador de SP descartou o elo com a facção.
A
intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A
substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos
(como formaldeído e ácido fórmico), que podem provocar a morte. Os principais
sintomas são:
–
visão turva ou perda da visão, podendo chegar à cegueira;
–
mal-estar generalizado: náuseas, vômitos, dores abdominais e sudorese.
O
Procon-SP (estadual) informou já fiscaliza estabelecimentos que vendem bebidas
como bares, restaurantes e adegas, bem como casas noturnas e supermercados em
geral. E vai intensificar suas ações de forma integrada com equipes do DPPC –
Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, da Polícia Civil de SP.
Nas
visitas reguladores do Procon-SP são verificados diversos aspectos do Código de
Defesa do Consumidor, dentre eles as informações obrigatórias em rótulos e
embalagens, além de checagem de notas fiscais de compras dos produtos
ofertados. A fiscalização dos conteúdos é de competência do Ministério da
Agricultura, mas, na ação conjunta com as forças policiais, produtos
irregulares podem ser apreendidos e encaminhados para análise laboratorial.
Nesta sexta-feira, 3, uma operação da PF recolheu amostras em indústrias de
três Estados.
A
reportagem entrou em contato com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) e aguarda retorno.
Na
quinta-feira, 2, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou que a
população evite o consumo de bebidas alcoólicas destiladas.
“Na
condição de ministro e como médico, a recomendação é que se evite ingerir produto
destilado, sobretudo os incolores, que você não tenha absoluta certeza da
origem. Não estamos falando de um produto essencial para a vida das pessoas”
recomendou Padilha.” Não faz problema nenhum na vida de ninguém evitar o
consumo.”
O
ministro reforçou que a recomendação é sobre bebidas destiladas. Ele explicou
que no caso da cerveja, por exemplo, é mais difícil adulterar pelas
características da bebida, como gás, tampa descartável, entre outros.
“A
gente já teve casos de intoxicação em cerveja quando teve uma falha na
produção”, disse.
A
Bahia registra o primeiro caso de morte suspeita de intoxicação por metanol no
município de Feira de Santana. A informação foi confirmada nesta sexta-feira,
3, pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia e Secretaria Municipal de Saúde
de Feira de Santana.
A
vítima é um motorista de 56 anos. Ele deu entrada na UPA da Queimadinha no dia
28 de setembro e morreu na madrugada desta sexta-feira. Ainda não há
informações sobre os sintomas apresentados.
“Amostras
biológicas serão coletadas e encaminhadas para análise laboratorial, com
resultado previsto em até sete dias, a fim de confirmar ou descartar a hipótese
de intoxicação”, disse a secretaria estadual.
Por: *José Maria Tomazela (conteúdo estado)