Segunda-feira, 10 de novembro-(11) de 2025
"Eu nunca serei preso" é outra fase do
ex-presidente.
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| Foto/Reprodução. |
Recentemente, vi e comentei aqui a minissérie Caçador de Marajás. Conta a história de Fernando Collor de Mello e
sua passagem pela Presidência. Está no Globoplay.
Em 1989, quando Fernando Collor foi eleito, eu tinha 30
anos. Jamais votaria nele e tenho a clara lembrança de como foram aqueles dias,
até o impeachment em 1992.
Vendo Caçador de Marajás, tive
a sensação de que nada daquilo poderia ser realidade. Tudo foi tão absurdo, que
parece que a gente está diante de uma obra de ficção.
Mas, it's all true. A construção de um falso personagem botou Fernando
Collor no Planalto e fez da primeira eleição após a ditadura um circo e uma
tragédia brasileira.
Em 2018, eu tinha 59 anos e fui testemunha
de outra tragédia brasileira: a eleição de Jair Bolsonaro, um político de
ideias abomináveis que, de repente, virou "mito".
Essa história não acabou. Em 2018, Lula
estava preso e não foi candidato. Bolsonaro venceu. Em 2022, Bolsonaro disputou
e perdeu a reeleição para Lula, solto em 2019.
Em 2026, Bolsonaro estará preso
e inelegível e não poderá disputar a eleição. Lula deseja disputar a reeleição
e, ao que tudo indica, tem grandes chances de ser o vitorioso.
Essa história vai terminar em
2030, quando Lula não poderá mais disputar uma reeleição, e será completamente
improvável o retorno de Bolsonaro à Presidência da República.
Jair Bolsonaro está em prisão domiciliar
desde agosto por desobediência a medida cautelar. A pena por tentativa de golpe
de estado ainda não está sendo cumprida.
Enquanto o ministro Alexandre de Moraes não
determina a execução da pena, há muita especulação sobre para onde o
ex-presidente Bolsonaro será mandado.
Jair Bolsonaro vai para a Papuda? Ou ficará
preso numa sala especial na sede da Polícia Federal em Brasília? Ou será que
vai mesmo cumprir a pena em prisão domiciliar?
José Dirceu, que é uma das vozes mais
inteligentes da esquerda brasileira, recentemente falou sobre a prisão de Jair
Bolsonaro, que ele não conhece pessoalmente.
José Dirceu defende que a pena a que Jair
Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal deve ser cumprida não na
Papuda, mas em prisão domiciliar.
Em favor do ex-presidente, Dirceu lembra
que Bolsonaro tem 70 anos, está doente e é um ex-presidente da República. Por
isso, crê que a prisão domiciliar seria mais adequada.
José Dirceu sabe o que é cumprir pena num
presídio. Ele foi condenado, fala de cátedra e não enxerga em Jair Bolsonaro as
condições para a vida no sistema prisional.
Os analistas da cena política, no entanto,
acreditam que Bolsonaro começará a cumprir a pena na Papuda. Só depois mudará
para o regime de prisão domiciliar.
Usei uma frase de Bolsonaro como título da
coluna porque é impossível não lembrar dela nesses dias que antecedem o início
do cumprimento da pena pelo ex-presidente.
A foto que abre a coluna é um fragmento do
vídeo de 2017 em que Bolsonaro, ainda deputado federal, pronunciou a frase
dirigindo-se à deputada Maria do Rosário, do PT.
Bolsonaro diz "a papuda lhe
espera" em tom de deboche e de molecagem. Uma fala absolutamente
inaceitável e incompatível com o que se espera de qualquer cidadão.
Visto hoje, o vídeo de oito anos atrás se
transformou numa peça que o destino está pregando em Jair Bolsonaro. É por ele,
talvez, que a Papuda esteja esperando.
A razão que me faz resgatar "a Papuda
lhe espera" diz respeito à necessidade que vejo de que não esqueçamos dos
absurdos que Bolsonaro disse e fez em sua vida pública.
No 7 de Setembro de 2021, há o "eu
nunca serei preso" para a multidão na Paulista. No 7 de Setembro de 2022,
há o "imbrochável, imbrochável" nos 200 anos da Independência.
Sabemos o quanto o Brasil é pródigo em
apagamentos. Deveria ser pródigo na preservação da memória. A memória das
coisas boas, mas também a das coisas ruins.
Bolsonaro não deve ser esquecido. Devemos
mantê-lo vivo em nossa memória como um político incapaz que um dia,
tristemente, chegou a ser presidente da República.
Bolsonaro foi um mau militar, segundo o general
Ernesto Geisel. Bolsonaro foi um mau parlamentar, que sugeriu a execução de 30
mil pessoas, inclusive de FHC. Na Câmara, Bolsonaro homenageou um homem
oficialmente reconhecido como torturador.
E Bolsonaro foi um péssimo presidente num
momento dramático das nossas vidas. As suas falas durante a pandemia - "Eu
não sou coveiro", "chega de frescura e mimimi", "país de
maricas" - não devem ser esquecidas. Nem perdoadas. Nada redimirá
Bolsonaro.
Por: Silvio Osias no Jornal da Paraíba

