Domingo, 02 de novembro-(11) de 2025
Matéria do UOL
O número de bebês e
crianças menores de cinco anos que morreram por doenças
evitáveis pela vacinação teve um novo
salto no Brasil em 2024, segundo o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade),
do Ministério
da Saúde, que divulgou os dados preliminares do ano passado
nesta segunda quinzena de outubro.
No ano passado foram 48 óbitos
classificados nessa categoria, um crescimento pelo terceiro ano consecutivo. Em
comparação a 2021, quando foram registradas 15 mortes nessa mesma faixa etária,
houve uma alta de 220% —o que coincide com um período de queda das coberturas
vacinais. Houve uma recente recuperação desses índices, mas ainda abaixo das
metas.
Um detalhe importante é que em 2020 e
em 2021, por causa do uso de máscaras e isolamento social, todas as doenças de
transmissão respiratória registraram queda de casos e mortes.
A alta do ano passado fica ainda maior
quando comparada apenas com o número de mortes de bebês menores de um ano, um
estrato em que houve um salto de 277% em dois anos.
Coqueluche
lidera
A principal responsável por essas
mortes infantis foi a coqueluche, uma doença que não matava crianças no Brasil
desde 2021. Ela é uma infecção respiratória, causada pela bactéria Bordetella pertussis, mas
que pode ser prevenida com a vacinação.
Os bebês devem receber três doses da
vacina pentavalente, aos 2, 4 e 6 meses de idade; enquanto as grávidas devem
ser imunizadas com a DTPa em todas as gestações, para proteger os
recém-nascidos.
“Esse dado é muito preocupante porque é
uma situação que vem da baixa cobertura vacinal”, diz Juarez Cunha, diretor da
SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e integrante do Departamento
Científico de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Em 2024, segundo o Observatório de
Saúde na Infância, o número de casos aumentou mais de 1.200% no Brasil: foram
pelo menos 2.152 registros da doença entre crianças menores de 5 anos de idade,
que são as mais vulneráveis a complicações. Isso é mais do que a soma dos cinco
anos anteriores.
“A coqueluche não foi um problema só no
Brasil, mas o mundo inteiro vivencia uma alta a partir de 2023. Era esperado um
aumento aqui, e por isso era fundamental termos coberturas melhores. A
principal estratégia para proteger da doença é vacinar a gestante e o bebê”,
reforça Juarez.
Causas das mortes evitáveis por vacina (0 a 4 anos):
    •    Coqueluche – 21 mortes
    •    Tuberculose do sistema nervoso – 13
    •    Meningite bacteriana – 9
    •    Tuberculose miliar – 2
    •    Difteria – 1
    •    Caxumba – 1
    •    Doenças virais congênitas – 1.
Todas essas doenças possuem vacinas
disponíveis no calendário básico de imunização do país e são disponibilizadas
gratuitamente nos postos de saúde dos 5.570 municípios brasileiros. Veja aqui o
calendário completo disponível pelo SUS.
A coluna pediu no dia 28 de outubro uma
entrevista com algum representante do PNI (Programa Nacional de Imunização), ligado
ao Ministério da Saúde, mas não teve retorno.
Números
subestimam outras doenças
Para Juarez Cunha, os dados
classificados como evitáveis por vacinação no SIM são subestimados, já que eles
não contam doenças com vacina, como covid e influenza. “Essas duas deveriam
também ser consideradas porque são imunopreveníveis”, diz.
O UOL consultou os dados de
influenza e viu que 116 crianças de 0 a 4 anos morreram em 2024, mas elas não
são óbitos classificados como evitáveis por vacinação. Já a covid-19 entra em uma
conta de demais infecções, tornando impossível saber o número exato pelo SIM.
Juarez cita que os números em alta são
reflexo direto das quedas de coberturas vacinais, que reduziram de forma
alarmante entre os anos de 2019 e 2021, e depois melhoraram a partir de 2022.
“Mas ainda temos muitas delas em baixa. A vacinação contra influenza só atingiu
50% do público-alvo de gestantes”, diz.
Essas coberturas de vacinas só agora, em 2023 e 2024, começaram a
melhorar. Além disso, tivemos períodos de falta da vacina, como a BCG [que
protege contra formas graves da tuberculose]. E ainda convivemos com
a desinformação, que impacta não só as vacinas de rotina, como as campanhas de
imunização. Tudo que a gente está vendo agora só reforça a necessidade de
realizar as imunizações, ter taxas elevadas não só nas crianças como nas
gestantes.
Juarez
Cunha
Sudeste e Sul
lideram
Ao todo, 17 estados e o Distrito
Federal registraram mortes evitáveis por imunização em 2024, com uma
curiosidade: apesar de serem regiões com menos mortes por causas evitáveis em
geral, Sul e Sudeste lideram as mortes de menores de cinco anos sem vacinação,
com 12 e 16 casos no passado, respectivamente.
    •    São Paulo – 7 mortes
    •    Amazonas – 5
    •    Rio de Janeiro – 5
    •    Paraná – 5
    •    Santa Catarina – 5
    •    Minas Gerais – 4
    •    Pará – 3
    •    Maranhão – 2
    •    Pernambuco – 2
    •    Rio Grande do Sul – 2
    •    Roraima – 1
    •    Piauí – 1
    •    Ceará – 1
    •    Distrito Federal – 1
    •    Sergipe – 1
    •    Bahia – 1
    •    Mato Grosso do Sul – 1
    •    Mato Grosso – 1.
Por: Uol

