Sábado, 05 de agosto de 2017
Um dos principais líderes da Igreja Católica no Rio Grande do
Norte causou polêmica ao afirmar que a homoafetividade é um dom de Deus.
"Se não é escolha, se não é doença, na perspectiva da fé só pode ser um
dom", afirmou o bispo de Caicó, Dom Antônio Carlos Cruz Santos. O
município fica na região Seridó, em pleno sertão potiguar.
O
comentário do clérigo foi feito no último domingo (30), durante a missa de
encerramento da Festa de Santana de Caicó – um dos mais tradicionais eventos
religiosos do estado. Ao fim de sua fala, ele foi aplaudido pelos fiéis
presentes à celebração.
"O
evangelho por excelência é evangelho da inclusão. O evangelho é porta estreita
sim, é um amor exigente, mas é uma porta sempre aberta. Deus nunca fecha porta
para ninguém", afirmou o bispo.
"Por
isso, talvez, seria momento, assim como fomos capazes de dar um salto, na
sabedoria do evangelho, de vencer a escravidão; não está na hora de a gente dar
um salto, na perspectiva da fé, e superar preconceitos contra os nossos irmãos
homoafetivos?", questionou.
O bispo
ainda considerou que a homoafetividade não é uma opção, mas uma orientação.
Argumentou que desde a década de 1990 a Organização Mundial da Saúde não
considera a relação entre pessoas do mesmo sexo como doença.
"Se
não é escolha, se não é doença, na perspectiva da fé só pode ser um dom, é dado
por Deus. Dom é isso. É dado por Deus, não tem jeito. Mas talvez os nossos
preconceitos não consigam perceber o dom de Deus", ponderou.
Reações
O vídeo da
transmissão da missa viralizou nas redes sociais e gerou polêmica entre os
fiéis. Na página da Diocese de Caicó no Facebook, pessoas usaram o espaço
destinado aos comentários para criticar o religioso.
"Dom
Antônio Carlos Cruz conseguiu transformar um pecado grave em dom de Deus",
diz um dos comentários. "A Santa Sé tomará conhecimento desta heresia,
proclamada dentro da Igreja Católica", afirma outro usuário, que chama o
bispo de inimigo da igreja.
Também
houve manifestações de apoio ao religioso. Uma mulher que afirma ser do Paraná
disse que conheceu Dom Antonio por meio das redes sociais e considerou que o
posicionamento é um novo passo para a religião.
"Quero
agradecer o senhor pela sua fala e pela sua delicadeza ao tratar deste assunto
que faz parta da minha vida. Meu filho é homossexual, bispo", comenta ela.
O grupo Cáritas Diocesano publicou uma nota de apoio ao clérigo, considerando
que o bispo cumpriu "missão profética" de denunciar injustiças
sociais.
O G1 procurou
Dom Antônio Carlos Cruz Santos, mas ele afirmou que prefere não dar entrevistas
no momento. Já a Arquidiocese de Natal informou que não vai comentar a
declaração do bispo e considerou que ele tem autonomia e liberdade de ideia e
pensamento.
Durante a
mensagem na missa de encerramento da Festa de Santana, dom Antônio Carlos Cruz
Santos afirmou ainda que ouviu uma entrevista com o autor de um estudo sobre
suicídios entre travestis e transexuais.
Ele contou
que procurou o pesquisador para conversar sobre o assunto e lembrou de um caso
em que recebeu a mãe de um jovem homossexual, que sofria muito o preconceito.
Para ele, é momento de "dar um salto" e superar alguns
posicionamentos da igreja.
Dom
Antonio ainda pontuou que a pessoa não pode escolher a orientação sexual, mas
pode escolher como vivê-la: "se de uma forma digna, ética, ou de uma forma
promíscua". "Mas promiscuidade pode-se viver em qualquer uma das
orientações que se tem", concluiu.
Carioca,
filho de pais nordestinos, Dom Antonio foi nomeado Bispo de Caicó, pelo
Vaticano, em 2014. Parte da congregação Missionários do Sagrado Coração de
Jesus, foi ordenado em 1992 e trabalhou na Cidade de Deus (RJ) e em Contagem
(MG), onde atuou três anos com estudantes de Teologia. Antes de chegar ao Rio
Grande do Norte, o religioso passou quatro anos em Belford Roxo (RJ).
G1