Domingo, 21 de julho de 2019
Ricardo Magnus Osório Galvão
rebateu críticas do presidente em entrevista. Bolsonaro questionou informações
do Instituto durante evento com jornalistas em Brasília.
Diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão - Foto: TV Vanguarda/Reprodução
O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
Ricardo Magnus Osório Galvão, rebateu as críticas feitas pelo presidente Jair
Bolsonaro, que acusou o órgão de pesquisa de mentir sobre dados de desmatamento e de estar "agindo
a serviço de uma ONG". Disse também que não deixará o cargo.
"Fazer uma
acusação em público esperando que a pessoa se demita. Eu não vou me
demitir", afirmou Galvão.
As acusações de
Bolsonaro foram feitas na sexta-feira (19), durante café da manhã com jornalistas estrangeiros.
Neste sábado, Galvão se defendeu em entrevista ao site do jornal "O Estado
de S.Paulo". Procurado pela TV Vanguarda, afiliada da Globo, ele reafirmou
as críticas. Veja a seguir um resumo do que disseram Bolsonaro, na sexta, e
Galvão à TV Vanguarda, neste sábado.
Acusações de
Bolsonaro
-"A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são
mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre
isso, e ponto final nessa questão."
-"Mandei ver quem está à frente do Inpe. Até parece que está
a serviço de alguma ONG, o que é muito comum."
-"Se for somado o desmatamento que falam dos últimos 10
anos, a Amazônia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a
psicose ambiental deixou de existir comigo."
Bolsonaro fez referência a dados que o Inpe havia divulgado na
quinta-feira (18), sobre o atual estado do desmatamento na Amazônia. Procurado
pela TV Globo, o Palácio do Planalto disse que não vai se manifestar sobre o
assunto.
Respostas de Galvão
-"Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo
Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a
maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais
respeitada mundialmente."
-"Tenho 71 anos, 48 anos de serviço público e ainda em
ativa, não pedi minha aposentadoria. Nunca tive nenhum relacionamento com
nenhuma ONG, nunca fui pago por fora, nunca recebi nada mais do que além do meu
salário com o servidor público."
-"Ao fazer acusações sobre os dados do Inpe, na verdade ele
faz em duas partes. Na primeira, ele me acusa de estar a serviço de uma ONG
internacional. Ele já disse que os dados do INPE não estavam corretos segundo a
avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise
de dados."
'Piada de um garoto
de 14 anos'
Galvão, disse ainda
que respeita o presidente Bolsonaro como um representante eleito, mas criticou
seu comportamento. "Sou republicano e [acredito] que ele tem várias
propostas que vão em benefício do país, mas ele tem tido realmente
comportamento que não respeitam a dignidade e liturgia da Presidência".
"Principalmente quando ele tem
essas entrevistas com a imprensa ou mesmo em outras manifestações, ele tem um
comportamento como se estivesse em botequim. [...] Ou seja, ele fez acusações
indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo
só eu, mas muitas outras pessoa", afirmou Galvão. "Isso é uma piada
de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da república fazer."
O Inpe disse em nota que sua política
de transparência permite o acesso completo aos dados e acrescentou que a
metodologia do instituto é reconhecida internacionalmente. "O Inpe teve um
papel fundamental na utilização de satélites para imagem de sensoriamento
remoto. O Brasil foi o terceiro país no mundo a usar imagens do satélite
landsat, método desenvolvido pelo Inpe. Todos os nossos métodos são
desenvolvidos pelo Inpe".
O pesquisador também defendeu seu histórico como cientista e as
escolhas feitas pelo ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
para cargos de pesquisa, como o que ocupa na diretoria do Inpe. "O
presidente Bolsonaro tem que que entender que eu sou um senhor de 71 anos,
professor titular da Universidade de São Paulo, membro da Academia Brasileira
de Ciências, fui presidente da Sociedade Brasileira de Física durante 3 anos,
membro do Conselho Científico da Sociedade Europeia de Física durante 3
anos".
"Todos os diretores dessas
unidades de pesquisa não são escolhidos por indicação política ou por que o pai
deles quis dar um filé mignon pra eles. Eles são escolhidos por uma comitê de
busca nomeado pelo governo, por 5 especialistas de renome nacional, tanto na
área científica quanto na área tecnológica", reiterou.
Galvão também disse que é preciso
defender quem "trabalha bem para o governo", e citou o ministro de
Ciências, Marcos Pontes. "Ele sempre manifestou que as questões do
desmatamento e das mudanças climáticas são questões cientificas e não
políticas. E têm que ser tratadas cientificamente, e ele sempre mostrou grande
respeito pelo Inpe", afirmou.
"No entanto, o ministro Ricardo
Salles vem atacando, desde o começo do ano, os dados do Inpe. Realmente
não sei com que intenções. Algumas pessoas dizem que ele tem intenção de transferir esse trabalho feito pelo Inpe para empresas privadas.
Não sei se é verdade, porque ele aparentemente desmentiu."
O diretor do Inpe afirmou que, antes da
polêmica com o presidente, havia enviado um ofício ao ministro Pontes, propondo
que fossem abertos canais de comunicação para esclarecer sobre esses dados e
criar ferramentas para que o governo pudesse usar essas informações de forma
mais clara e transparente.
Por Pedro Melo, TV
Vanguarda