Sábado, 12 de outubro de 2019
Catarina Maria, de três anos, recebeu o diagnóstico de Síndrome da Zika
Congênita antes mesmo de nascer. Relação entre o zika vírus e a microcefalia
foi descoberta através de pesquisas realizadas em Campina Grande.
Catarina Maria é a primeira criança diagnóstica com Zika Congênita no mundo — Foto: Maria da Conceição/ Arquivo pessoal
Brincar e ir à escola são atividades que fazem parte da rotina
de muitas crianças, inclusive a de Catarina Maria Alcantara Oliveira Matias, de
3 anos. Mas, antes mesmo de ela nascer, os pais se questionavam se uma vida
comum seria possível para a filha. Na menina, foi diagnosticado o primeiro caso
confirmado no mundo de Zika Congênita, condição
causadora de microcefalia. O diagnóstico veio de Campina Grande,
cidade do Agreste da Paraíba, de onde saiu a primeira pesquisa que
descobriu a síndrome, realizada pela médica Adriana Melo.
Catarina foi muito
esperada. Ela é a primeira filha da fisioterapeuta Maria da Conceição Alcantara
Oliveira Matias, de 38 anos, e do professor Mário Matias Maracajá Filho, de 33
anos. A menina também é a primeira neta das duas famílias.
“Minha gravidez foi tranquila. Queríamos muito um filho, era o
momento certo. Nos três primeiros meses tive todos os cuidados para não ter
nenhum problema, já que é o período que é mais crítico”, contou Maria
Conceição.
Mesmo com todos as precauções,
Conceição teve uma surpresa na sétima semana
de gestação. Manchas vermelhas espalhadas pelo corpo inteiro
apontaram para o diagnóstico da Zika, doença causada pela picada no mosquito Aedes aegypti, que foi confirmado
após um exame de sangue.
A dois meses do parto, Conceição fez
uma consulta de rotina com a médica e pesquisadora Adriana Melo, em Campina Grande.
Uma ultrassonografia identificou que a criança tinha danos neurológicos, mas
ainda não era possível dizer quais.
“Foi
um momento de muito choro. Eu pedia sempre a Deus que me desse uma filha
saudável. Eu tinha pacientes crianças e não sabia como as mães aguentavam a
rotina de tratamento”, desabafou a fisioterapeuta.
Após um mês, Conceição recebeu um
telefonema de Adriana, que lhe ofereceu fazer parte de uma pesquisa que estudava a relação entre o vírus da Zika e
danos neurológicos como a microcefalia. A mãe de Catarina não
pensou duas vezes e passou por uma bateria de exames específicos. Alguns deles
foram enviados para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, que
confirmaram a presença do vírus no líquido amniótico.
Mesmo sem poder fazer mais nada para
evitar o diagnóstico que a filha recebeu, Conceição quis continuar na pesquisa
para ajudar outras mães e crianças que passavam pelo mesmo processo. Em São
Paulo, durante a realização de novos exames, ela ouviu o que nenhuma mãe
gostaria de ouvir.
“Recebi
um diagnóstico muito doloroso. Um médico me disse que se Catarina nascesse
viva, seria uma criança que ficaria vegetando em cima de uma cama porque os
danos neurológicos dela eram muito grandes”, lamentou.
Contradizendo as expectativas negativas, Catarina nasceu em fevereiro
de 2016. Com seis meses de vida o desenvolvimento dela já impressionava. A mãe
assumiu o compromisso de iniciar o tratamento em casa. Para Adriana Melo, a
estimulação motora precoce fez toda a diferença no crescimento da menina.
Catarina começou o tratamento ainda no
terceiro dia após nascimento. Graças a isso, ela se desenvolve e mantém uma
vida comum como qualquer outra criança da idade dela. A mãe da menina,
Conceição, é fisioterapeuta e após o diagnóstico, assumiu o compromisso de
estimular o desenvolvimento da filha fazendo fisioterapia em casa.
Catarina durante sessão de fisioterapia no Ipesq, em Campina Grande — Foto: Maria da Conceição/ Arquivo pessoal
Por Iara Alves e Dani
Fechine, G1 PB