Domingo, 05 de janeiro de 2020
Matéria do Site Folhapress
Foto: Reprodução/Internet
EMILIO SANT’ANNA SÃO PAULO, SP
(FOLHAPRESS) – Para 43% dos brasileiros, o número de moradores de rua em suas
cidades aumentou no último ano. Outros 44% dizem que a quantidade se manteve
igual em 2019, segundo pesquisa Datafolha. O levantamento aponta que para 8%
esse número diminuiu. Não opinaram 4%.
Foram ouvidas 2.948 pessoas de 16 anos ou mais em 176 municípios
do Brasil, entre 5 e 6 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos
percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
A percepção de que a quantidade de moradores de rua aumentou em
2019 é mais alta entre os moradores da região Sudeste (48%), de capitais (58%)
e de municípios com mais de meio milhão de habitantes (58%).
Já a percepção de que o número de moradores de rua diminuiu em
2019 é mais alta entre os moradores do interior (51%) e entre os que habitam
municípios com até 50 mil habitantes (58%).
Em São Paulo, que faz parte do grupo de cidades em que essa
percepção de alta é maior, em três anos o total de pessoas abordadas como
moradores de rua quase dobrou.
Ao longo de 2018, assistentes sociais municipais abordaram cerca
de 105,3 mil pessoas nas calçadas da cidade, de acordo com a base de dados
disponibilizada no site da prefeitura.
Esse número é 66% maior do que a quantidade de pessoas abordadas
na mesma situação em 2016, quando foram contabilizados 63,2 mil indivíduos, e
88% maior que o total de abordagens realizadas em 2015.
O número de indivíduos abordados não representa a quantidade de
pessoas que vive de fato nas ruas.
Entre essas pessoas há, por exemplo, moradores da periferia que
passam dias e noites vivendo nas calçadas da região central em busca de
doações, mas que durante parte do mês retornam a suas casas; e pessoas que
estão de passagem pela cidade, entre outras situações.
Mesmo assim, o levantamento é o indicador mais próximo para
retratar o aumento cada vez mais perceptível dessa população.
Mesmo quem está em situação de rua em São Paulo diz notar o
crescimento. Há um mês, Wallace Barbosa de Souza, 26, engrossa o número de
pessoas que não tem onde morar. Essa não é a primeira passagem do auxiliar de
cozinha pelas ruas.
“Já fiquei três meses uma vez e seis meses outra. Percebo que
tem mais gente agora precisando de ajuda”, diz.
Wallace não tem família; cresceu entre idas e vindas da casa dos
avós para o orfanato. Ele reclama da falta de oportunidades e da discriminação.
“É como se a gente não existisse, te olham de cima a baixo e não
te veem”, diz o jovem que convive há 15 anos com a depressão e espera para
retomar o tratamento na rede pública.
Ao seu lado, sentado na praça Marechal Deodoro, Josimar Batista,
34, diz que já passou sete anos nas ruas. Usuário de crack, o ex-soldador tem
família em Mauá, mas o vício e as brigas o devolveram recentemente ao centro de
São Paulo.
“Costumo andar sozinho, não me misturar para não me meter em
confusão”, diz. “Dessa vez vejo que tem mais gente nessa situação.”
O problema se repete em outras cidades. No Rio, o número de
moradores de rua contados pela prefeitura quase triplicou de 2013 a 2016, para
14.279 pessoas. Depois, a gestão Marcelo Crivella (PRB) mudou a metodologia e
contou menos de 5.000 pessoas nessa situação –especialistas contestam o dado.
Uma amostra do tamanho dessa população são as marquises da
região central da capital fluminense, que ficam lotadas, com fila para a sopa
levada por voluntários, e o fato de até na praia haver moradores de rua
dormindo.
Em Porto Alegre, a prefeitura estima em 4.000 as pessoas nas ruas, o dobro do
registrado em 2016. Em Curitiba, o avanço foi de 50% em três anos, para 2.186
neste ano.
Em Manaus, os venezuelanos inflaram o contingente de 2.000
pessoas que vive nas ruas, segundo o Comitê Intersetorial de Políticas à
População de Rua, do governo estadual.
Em Belém, houve aumento na procura de moradores de rua por
atendimento, segundo a Funpapa (Fundação Papa João 23), ligada à prefeitura,
que mantém abrigos. Foram 677 atendimentos até abril –em 2018 inteiro, haviam
sido 853. De cada 5 atendidos, 4 são homens.
Não há levantamento anual em Belo Horizonte, Recife, Salvador e
Fortaleza, mas ONGs que atuam com pessoas em situação de rua confirmam o
aumento recente.
Na capital baiana, a prefeitura tem cadastradas 5.900 pessoas.
Contudo, um estudo feito em 2017 pela ONG Projeto Axé aponta de 14 mil a 17 mil
pessoas nas ruas de Salvador.
Por: Folhapress