Domingo, 12 de janeiro de 2020
Reajuste ocorreu a
partir de uma estimativa de inflação; agora que a taxa oficial foi divulgada,
percebe-se que a correção foi inferior ao percentual final
Salário mínimo fixado para 2020 é de R$ 1.039 (Foto: Imagem ilustrativa | Marcos Santos/USP Imagens)
O reajuste do salário
mínimo ficou abaixo da porcentagem oficial da inflação, sendo reajustado em 4,1%, menor que o Índice
Nacional de Preços ao Mercado (INPC) de 2019, que ficou em 4,48%, divulgado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira
(10).
Em relação à Lei Orçamentária
Anual (LOA) de 2020, aprovada pelo Congresso Nacional no dia 9 de dezembro de
2019, o valor ficou R$ 8 mais alto, com o salário mínimo fixado em R$ 1.039. A
previsão anterior do governo federal para a inflação de 2019 era de 3,3%, mas o
percentual acabou subindo para 4,1%, de acordo com a última estimativa medida
pelo IBGE.
Caso
a correção de 4,48% do INPC de 2019 fosse aplicada sobre o valor vigente do
salário de 2019, de R$ 998,00 (o valor inicial para 2020 seria de R$ 999,91), o
valor do salário mínimo deveria ter subido para R$ 1.044,70.
Para
o cálculo do INPC mensal, foram comparados os preços coletados no período de 28
de novembro a 27 de dezembro de 2019, que é a referência com os preços vigentes
no período de 29 de outubro a 27 de novembro de 2019, a base. O INPC é
calculado pelo IBGE desde 1979, e se refere às famílias com rendimento de
1 a 5 salários mínimos.
O
Ministério da Economia foi procurado pelo Portal Correio para
saber se o reajuste do salário mínimo será revisado, mas respondeu dizendo que
“não vai se posicionar sobre a questão”.
Inflação 2019
O principal componente que
influenciou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em
2019 foi a carne, com impacto 0,86% no índice, que representou, também, o
maior efeito individual no ano. No acumulado do ano, a alta ficou em 32,40%,
sendo que a maior parte, 27,61%, se concentrou no último bimestre de 2019, o
que foi o suficiente para que o IPCA fechasse o ano passado em 4,31%, a maior
taxa desde 2016, e superior ao centro da meta de inflação de 4,25% fixada pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN).
Em dezembro, o indicador
registrou a maior alta para o mês, desde 2002, de 1,15%, enquanto em novembro
tinha sido de 0,51%.
Como a carne têm um peso
grande no indicador, a influência é maior no índice. Somente em dezembro, os
preços tiveram alta de 18,06%, que acabam refletindo em outros componentes do
IPCA.
“Ela [carne] tem um efeito
grande na parte de alimentação fora do domicílio, porque gera uma inflação de
custos para bares e restaurantes, assim como, tem efeito também em outras
proteínas e alimentos, como no caso dos pescados e frangos. As pessoas buscam
substituir a carne por outros produtos e isso acaba encarecendo os preços
também [dos outros produtos]”, explicou o gerente do Sistema Nacional de
Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Pedro Kislanov da Costa.
Segundo Pedro Kislanov, o
INPC, sem o impacto da carne, teria ficado em 3,54% no ano. “Nota-se que teve
um efeito grande sobre o resultado, mas no final das contas, ele ficou muito
próximo do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que foi de
4,25%. O resultado do ano foi de 4,31%, então, ficou dentro do esperado pelo
governo e pelo Banco Central”, observou.
No início do ano, o indicador
também sofreu impacto de outro componente do grupo alimentação e bebidas. O
feijão carioca acumulou elevação de 105% no primeiro trimestre. No fim do ano,
os preços voltaram a subir e fecharam o ano com elevação de 55,99%. “Nos três
primeiros meses do ano, a gente teve uma questão climática de excesso de
chuvas, que prejudicou a colheita. Com isso, o feijão acumulou uma alta de 105%
nos três primeiros meses. Depois ao longo do ano a gente observa deflação com
uma segunda safra do feijão, mas no final do ano o feijão retomou uma
trajetória de alta. Ficou com mais de 20% neste mês de dezembro, fechando o ano
com quase 56% de alta”, disse, acrescentando que será preciso aguardar o mês de
janeiro para ver se o produto mantém a trajetória na mudança do ano.
No grupo de transportes, que
fechou com alta de 3,57%, os maiores efeitos foram com os ônibus urbanos
(6,64%) e a gasolina (4,03%). No grupo habitação, o maior impacto foi o preço
da energia elétrica, que acumulou alta de 5% em 2019, apesar de ter recuado em
quatro meses do ano. De acordo com o IBGE, a mudança de bandeira tarifária
influenciou o comportamento desse componente. Desde novembro, vigoram novos
valores das bandeiras com a amarela a R$ 1,343, a vermelha patamar 1 em R$
4,169, e a vermelha patamar 2 em R$ 6,243, a cada 100 quilowatts hora
consumidos.
Planos de saúde
Os planos de saúde, com alta de
8,24%, foram um destaque no grupo Saúde e Cuidados Pessoais, que subiu 5,41%.
Os planos de saúde têm um peso muito grande dentro do orçamento das famílias e
acabaram fechando o ano com alta bem maior do que a alta do próprio IPCA. Em
2019, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou um reajuste de
até 7,35% nas mensalidades dos planos de saúde individuais.
De acordo com Pedro Kislanov,
o único grupo a apresentar deflação foi o de artigos de residência, com recuo
de 0,36%, causado pelas quedas dos preços de TV, som e informática de 4,41% e
de mobiliário, de 1,21%.
Os dez itens mais
representativos em termos de impactos de alta representam 59,16% do IPCA, entre
eles as carnes, planos de saúde, energia elétrica, ônibus urbano, jogos de azar
e gasolina. “A gente percebe muito a presença dos itens monitorados nas
principais pressões tanto pela variação acima do índice geral, como também pelo
peso no orçamento das famílias. Plano de saúde e energia elétrica são itens com
peso maior no orçamento das famílias”, disse o analista do Sistema Nacional de
Índices de Preços do IBGE André Almeida.
Previsão
Para o gerente do Sistema
Nacional de Índices de Preços do IBGE, Pedro Kislanov, agora é preciso aguardar
se em 2020 o comportamento dos preços será o mesmo. No caso da carne, no final
de 2019 houve uma restrição na oferta no mercado doméstico, por conta do
aumento das exportações, principalmente para a China. “A gente tem um ano todo
aí pela frente. Podem ter diversas questões de demandas que podem influenciar
os preços tanto da carne quanto dos outros produtos, então, não tem como fazer
uma previsão neste momento”.
De acordo com Pedro Kislanov,
ainda não se pode garantir que o resultado do IPCA tenha relação com a retomada
da economia. Ele porém não afastou a perspectiva de influência em 2020. “Esse
resultado do mês de dezembro foi muito influenciado pelas carnes, então, tem
mais a ver com uma questão de oferta do que de demanda, que normalmente
sinaliza uma retomada da economia. No entanto, a gente tem observado que os
dados do PIB melhoraram, a gente teve uma redução da taxa de desocupação,
então, pode ser que isso venha, de fato, gerar efeitos no IPCA de 2020”, disse.
O IPCA é calculado pelo IBGE
desde 1980. O indicador se refere às famílias com rendimento de um a 40
salários mínimos, independentemente da fonte, e atinge dez regiões
metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio
Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.
Por: Agência Brasil