Segunda-feira, 25 de julho-07 de 2022
Caso foi
descoberto em fevereiro, mas os detalhes vieram à tona nesta semana, em
reportagem do jornal britânico 'The Guardian'.
Prédio em Peckham, sul de Londres. (Foto: Google Street View)
A secretária médica Sheila Seleoane, de 61 anos, foi encontrada morta no
início deste ano, em seu apartamento em Londres, no Reino Unido. A história
chama atenção porque o corpo foi encontrado quase três anos depois do falecimento.
Reportagens do jornal britânico "The Guardian" trouxeram mais
detalhes do episódio nas últimas semanas. Seleoane não tinha amigos ou
familiares próximos, e não foi procurada nem ao parar de pagar aluguel em 2019.
O corpo só foi descoberto depois de um alerta à polícia local sobre
danos em uma porta da varanda do apartamento em Peckham, sul de Londres,
causados por tempestades. Sem resposta da moradora, as autoridades forçaram a
entrada.
Como ninguém notou?
O legista Julian Morris concedeu entrevista ao jornal nesta semana e
disse que ficou "claro que algo deu errado" depois que tantos eventos
incomuns não tenham gerado a suspeita que havia uma pessoa sem vida dentro do
imóvel.
Segundo a investigação publicada pelo Guardian, vizinhos haviam reclamado
repetidamente do cheiro vindo do apartamento, mas a Peabody Trust, associação
habitacional que age como gestora do imóvel, ignorou a questão.
Relatos dos vizinhos trazidos pelo jornal dão conta do aparecimento de
larvas e moscas vindas do apartamento semanas depois da interrupção de
pagamentos de aluguel, em agosto de 2019. Em outubro de 2020, um vizinho
mencionou que o cheiro era "como de um cadáver".
O relatório final do caso encontrou ao menos 89 tentativas de contato
com Seleoane entre agosto de 2019 e fevereiro de 2022, que não foram
respondidas, nem acompanhadas.
Já os dirigentes da Peabody disseram ao relatório que buscaram garantir
"qualquer contato" com Seleoane, mas preferiram o envio de e-mails,
mensagens de texto, carta ou ligação telefônica e enviaram registros como
evidência de que o trabalho havia sido feito.
Por causa do calor, bombeiros de Londres vivem o dia mais movimentado
desde a Segunda Guerra Mundial.
Tratamento digno
O caso gerou discussão sobre o se deve considerar como tratamento digno
dispensado não só aos clientes da Peabody, como no atendimento como um todo.
Um comunicado assinado pelo CEO da Peabody, Ian McDermott, e publicado
pelo Guardian, diz que a empresa está "devastada" com o que
aconteceu. "Sentimos muito por nossa parte nisso e pedimos desculpas a
Sheila, sua família e a todos que vivem em Lord's Court. Ao agir neste caso,
não fizemos a pergunta mais fundamental: Sheila está bem?"
Mas há falhas inclusive das autoridades. O inquérito mostra que um
gerente da Peabody pediu à polícia que fizesse uma verificação de bem-estar em
outubro de 2020. E, por um erro de processo, a polícia informou ao gerente da
associação que agentes falaram com a moradora, que estava "segura e
bem".
Ainda assim, a verificação só foi feita mais de um ano depois da
estimativa de morte de Sheila Seleoane. Seus últimos cupons de compra de
comida, encontrados no apartamento, junto com o corpo, são de agosto de 2019.
Por: g1