Veja 5 razões pelas quais impeachment de Dilma é improvável
Quinta-feira, 12 de Março de 2015
Falta de interesse da oposição e de provas de envolvimento
de Dilma no escândalo da Petrobras são alguns dos motivos apontados pelos
especialistas
A série de problemas enfrentados pela presidente Dilma
Rousseff neste início de segundo mandato já foi indicada por alguns como sinal
de ameaça ao seu governo. Na semana passada, um blog publicado no site do
jornal britânico Financial Times listou 10 motivos para acreditar que Dilma
poderia sofrer impeachment, entre eles as investigações de corrupção na
Petrobras, a economia em baixa, a crise no abastecimento de água e energia e o
menor apoio no Congresso.
No entanto, para
cientistas políticos consultados pela BBC Brasil, esse não é um cenário
realista e, apesar dos problemas, no momento não há razão para considerar a
possibilidade de que Dilma não termine seu mandato.
Abaixo, seis motivos
pelos quais os brasilianistas consideram improvável um processo de impeachment
no Brasil:
1 – Até o momento, não há base para impeachment
Para os analistas entrevistados pela BBC Brasil, apesar dos graves problemas
enfrentados pelo governo, não está claro qual seria a base para um processo de
impeachment.
"Há tensões dentro
do governo, tensão entre Lula (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e
Dilma, entre o PT e (o novo ministro da Fazenda) Joaquim Levy. A polarização no
Brasil está ficando muito forte, entre o PT e a oposição, entre o Congresso e a
presidente", enumera Peter Hakim, presidente emérito do instituto de
análise política Inter-American Dialogue, em Washington.
"Mas a pergunta que
eu tenho é como o processo de impeachment seria iniciado, qual seria a base
para impeachment?", questiona.
Para analistas, um fator
importante é não haver evidências de envolvimento de Dilma no escândalo da
Petrobras Segundo Hakim, até o momento não parece haver nada que possa
desencadear um processo de impeachment. Ele ressalta que acusações de
"incompetência", por si só, não são motivo para impeachment.
O cientista político
Riordan Roett, diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade
Johns Hopkins, em Washington, lembra que nos Estados Unidos a ameaça de
impeachment também costuma ser mencionada com frequência.
"O impeachment
nunca está fora de questão. Os conservadores do Tea Party estão sempre falando
em impeachment no Congresso americano, mas obviamente isso não vai
acontecer", compara.
"(No caso do
Brasil) penso que é muito cedo para sequer pensar sobre a possibilidade de um
processo sério de impeachment."
2 – Não há evidências de envolvimento de Dilma no escândalo da
Petrobras
O escândalo de corrupção na Petrobras, que já provocou o rebaixamento da nota
da empresa pela agência de classificação de risco Moody's, é considerado por
Hakim o principal problema enfrentado por Dilma no momento.
Mas ele e outros
analistas ressaltam que nada indica que a presidente – que esteve à frente do
Conselho de Administração da empresa entre 2003 e 2010 – tenha tido algum tipo
de envolvimento ou soubesse dos casos de corrupção.
"Até o momento, não
há evidência de que Dilma seja culpada de nada além de má administração (no
caso da Petrobras)", diz o cientista político Matthew Taylor, pesquisador
do Brazil Institute, órgão do Woodrow Wilson Center e professor da American
University, em Washington.
Taylor observa que,
assim como no escândalo do Mensalão muitos dos membros mais céticos da
oposição diziam na época que o então presidente Lula deveria saber do que
ocorria, no caso da Petrobras é possível que muitos digam o mesmo de Dilma, que
seus laços com a empresa eram tão estreitos que ela deveria saber do esquema de
corrupção.
"Mas em uma grande
organização como essa, é bem plausível que ela simplesmente não tenha
investigado mais profundamente o que poderia estar ocorrendo", afirma.
"Até agora não há qualquer sugestão nos documentos que se conhece de que
Dilma seja culpada de qualquer comportamento criminoso", diz Taylor.
3 – A oposição não tem interesse em um processo de impeachment
Segundo os analistas ouvidos pela BBC Brasil, a oposição não teria condições e
nem tem interesse em levar adiante um processo de impeachment.
"Não acho que o
PSDB teria muito a ganhar. Além disso, precisaria do apoio do PMDB e de outros
partidos na coalizão do governo. E, francamente, nenhum desses partidos
gostaria de ver Dilma sofrendo um impeachment", afirma Taylor.
"Eles têm muito a
ganhar com uma Dilma enfraquecida", observa. "Talvez seja melhor para
a oposição simplesmente deixar Dilma mergulhada na crise e deixar que ela tome
as difíceis medidas de austeridade e ser responsabilizada por elas."
4 – Apoio no Congresso
Dilma enfrenta dificuldades em sua relação com o Congresso e com a própria base
aliada, em um momento em que o PT e o PMDB, apesar de terem as maiores
bancadas, perderam cadeiras nas últimas eleições, que também foram marcadas por
uma maior fragmentação do Congresso.
"Uma das questões
cruciais para Dilma é lutar contra a oposição que há no Congresso ao plano de
ajuste fiscal. Mas ela está em uma posição enfraquecida, porque não é popular,
o PT tem menos membros no Congresso, há mais partidos pequenos", enumera
Roett.
Apesar das dificuldades,
os analistas ressaltam que a estrutura de apoio de Dilma é muito mais forte do
que a do ex-presidente Fernando Collor de Mello, alvo de impeachment em 1992.
"Collor estava
implementando políticas que eram de certa maneira radicais, que iam contra a
maioria dos eleitores, e estava fazendo isso em um contexto em que seu partido
tinha menos de 3% do Congresso", diz Taylor
5 – Dificuldades em toda a América Latina
Apesar de graves, os atuais problemas não são exclusividade do Brasil; muitos
países da América Latina também enfretam escândalos
A avaliação dos
analistas é de que, apesar de graves, os atuais problemas não são exclusividade
do Brasil. Muitos países da América Latina também enfrentam um período de
escândalos e economia em queda. "Não é como se o Brasil estivesse
sozinho", observa Hakim.
Ele cita os casos de
México, Venezuela, Peru, Chile e Argentina, onde os presidentes também
atravessam um momento de fraca popularidade. "Se no Brasil a inflação
chega a 7,3% nos últimos 12 meses, na Argentina está em torno de 40%, e na
Venezuela perto de 70%", diz Hakim. "A confiança do investidor está
em baixa em toda a América Latina."
Exagero
Para Hakim, há um certo exagero quando se fala na possibilidade de impeachment
de Dilma. "Ninguém falava em impeachment de Fernando Henrique Cardoso por
causa da crise do apagão. Ninguém falava em impeachment de Lula por causa do
Mensalão", lembra.
O analista reconhece que
Dilma está enfrentando problemas em várias frentes, mas afirma que esses
problemas não são incomuns em governos com a economia em baixa.
"Lembra quando
todos falavam que o Brasil era um foguete em direção à lua, que ninguém
segurava o Brasil? Aquilo foi dramaticamente exagerado. Agora, o suposto
desastre enfrentado pelo Brasil também está sendo exagerado. Pode estar prestes
a enfrentar um pouco de turbulência, mas não se compara à situação da Argentina
ou da Venezuela", afirma Hakim.
Taylor diz que o
escândalo da Petrobras o deixa "cautelosamente otimista".
"Quando se pensa no Brasil e nas experiências da América Latina, em
quantos outros países você prenderia alguns dos mais importantes empresários e
consideraria a possibilidade de prender alguns dos mais importantes políticos?
E, mesmo eu não achando um cenário realista, a própria contemplação de
impeachment de uma maneira válida institucionalmente. Isso tudo aponta para a
força da democracia brasileira, não fraqueza."
BBC BRASIL.com