Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2016.
A doença de Alzheimer pode ser
transmitida durante alguns procedimentos médicos, como cirurgia, de acordo com
os resultados de um estudo publicado nesta terça-feira, no periódico
científico Swiss Medical Daily. No estudo, foram encontrados sinais de
Alzheimer no cérebro de sete pacientes que haviam morrido de Creutzfeldt-Jakob
(DCJ), uma encefalopatia espongiforme transmissível de caráter
neurodegenerativo que acomete os humanos e não tem cura. As informações são da
revista científicaNature.
Os pesquisadores suíços e
austríacos realizaram autópsias no cérebro das sete pessoas que haviam morrido
em decorrência da doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Esses pacientes foram
infectadas com a rara condição décadas antes de morrerem, após receberem
enxertos cirúrgicos de dura-máter (membrana que cobre o cérebro e a medula
espinhal). Estes enxertos, preparados a partir de cadáveres humanos, estavam
contaminados com a proteína príon que causa a doença.
Além dos danos causados pelos
príons da DCJ, cinco dos sete cérebros examinados apresentavam placas de
proteína beta-amiloide, associada ao Alzheimer, na matéria cinzenta do cérebro
e nos vasos sanguíneos. De acordo com os cientistas, os pacientes, com idades
entre 28 e 63 anos, eram muito jovens para terem desenvolvido essas placas. No
grupo de controle, composto por 21 pessoas que haviam morrido de DCJ, mas que
não haviam realizado enxertos cirúrgicos de dura-máter, não foram encontrados
estes depósitos de proteína.
Para os autores, é possível
que, além dos príons que causam a doença de Creutzfeldt-Jakob, as dura-máter
transplantadas pudessem estar contaminadas com pequenos pedaços de
beta-amiloide. As doenças têm longos períodos de incubação. Mas, enquanto a DCJ
progride rapidamente, o Alzheimer se desenvolve lentamente, por isso nenhum dos
pacientes tinha apresentado sintomas claros de Alzheimer antes de suas mortes.
Evidências
anteriores
Esta é a segunda vez que um estudo sugere
que o Alzheimer pode ser transmitido por meio de procedimentos médicos. Em
setembro de 2014, um trabalho publicado naNature havia sugerido que o
Alzheimer poderia ser transmitido por meio de um tratamento para crescer que
utilizava injeções de hormônio de crescimento retirado da hipófise de cadáveres
humanos.
Os oito pacientes então
avaliados também eram relativamente jovens (entre 36 e 51 anos) e haviam
morrido da doença de Creutzfeldt-Jakob após receberem estas injeções. Como no
estudo atual, os pesquisadores da University College de Londres, na Inglaterra,
encontraram um acúmulo incomum de proteína beta-amiloide no cérebro de seis
destes pacientes.
"Nossos resultados são
consistentes. O fato de que o novo estudo mostra a mesma patologia emergente
após um procedimento completamente diferente aumenta a nossa preocupação",
disse o neurologista John Collinge, coautor do estudo, à Nature.
Os autores ressaltam que o
Alzheimer não é uma doença infecciosa e por isso não há risco de ser
transmitida pelo contato humano. Os tratamentos médicos com material
provenientes de cadáveres que levaram à morte dos indivíduos dos estudos também
não são mais realizados atualmente.
Entretanto, estas descobertas
são importantes para a classe médica, principalmente no que diz respeito à
esterilização de materiais cirúrgicos. Por exemplo, as proteínas beta-amiloides
são extremamente pegajosas e os procedimentos de esterilização padrão da
cirurgia geral não são capazes de removê-la dos instrumentos, o que pode ser um
risco potencial.
"É nosso trabalho como
médicos ver de antemão o que pode se tornar um problema na clínica", disse
Herbert Budka, coautor do estudo.
Apesar dos resultados, os
cientistas afirmam que ainda não é possível afirmar que a beta-amiloide pode
ser transmitida por procedimentos médicos ou instrumentos cirúrgicos e, por
isso, são necessários mais estudos sistemáticos em organismos modelo.
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