Terça-feira, 05 de Janeiro de 2016.
Tão
frequente no verão brasileiro, a busca pelo bronzeado pode esconder uma
estatística preocupante: em dez anos, o número de mortes por câncer de pele cresceu 55% no país, segundo
levantamento feito pela reportagem com base em dados do Instituto Nacional do
Câncer (Inca).
Embora
tenha as maiores chances de cura se descoberto precocemente, o tumor de pele
matou 3.316 brasileiros somente em 2013, último dado disponível, média de uma
morte a cada três horas. Dez anos antes, em 2003, foram 2.140 óbitos.
Segundo
especialistas, o envelhecimento da população, o descuido com a pele durante a
exposição solar e a melhoria nos sistemas de notificação da doença são as
principais causas do aumento do número de vítimas desse tipo de câncer.
"Gerações
que tiveram grande exposição ao sol sem proteção estão ficando mais velhas e
desenvolvendo a doença", diz Luís Fernando Tovo, coordenador do
Departamento de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia
(SBD).
"Além
da proteção, é preciso fazer exame dermatológico periodicamente. A maior parte
das pintas não é câncer de pele. As que devem causar maior alerta são as
assimétricas, com bordas irregulares, variação de cores, de diâmetro maior, que
apresentam evolução ou mudanças", diz o médico.
Não foi
somente em números absolutos que a mortalidade por câncer de pele cresceu.
Entre os homens, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes passou de 1,52 para
2,24 entre 2003 e 2013. Entre as mulheres, o índice cresceu de 0,96 para 1,29
por 100 mil no mesmo período.
Tipos
O câncer
de pele é dividido em dois principais tipos. Mais agressivo e letal, o melanoma
surge, geralmente, a partir de uma pinta escura. Já os não melanomas, divididos
em carcinoma basocelular e espinocelular, costumam aparecer sob a forma de
lesões que não cicatrizam.
O melanoma
é o que rende mais preocupação porque tem mais chances de provocar metástase.
Ele é responsável por apenas 5% dos casos de câncer de pele, mas corresponde
por 46% das mortes.
"Enquanto
os melanomas são mais agressivos, os não melanomas raramente matam. Têm um
poder de destruição local, mas dificilmente produzem metástase. Os pacientes
que morrem desse tipo de tumor geralmente têm uma lesão e deixam para lá, não
tratam e passa 20, 30 anos e aí pode atingir órgãos importantes, como o pulmão,
o fígado e o cérebro, e causar a morte", diz Dolival Lobão, chefe do
Serviço de Dermatologia do Inca.
As
estatísticas do instituto mostram que idosos, homens e moradores da Região Sul
do país são as principais vítimas do câncer de pele. Do total de mortes em
2013, 57% eram homens e 72% tinham mais de 60 anos. No Sul, a taxa de
mortalidade no ano retrasado foi quase o dobro da registrada no país.
Detecção
Segundo os
especialistas, mesmo o melanoma tem mais de 90% de chance de cura quando
diagnosticado precocemente. A engenheira química Ivana Tacchi, de 52 anos, é um
exemplo de que a busca por um especialista rapidamente pode ser crucial. No ano
passado, ela retirou três melanomas em estágios iniciais e está curada.
"Tomei
muito sol na adolescência. Sempre morei em São Paulo e queria tirar o atraso do
sol nas férias. Como sou muito branquinha, era aquela situação de um dia de
praia e três dias em casa com queimaduras e bolhas", conta.
Segundo
especialistas, o câncer de pele pode aparecer tanto pela exposição acumulada
durante toda a vida quanto por episódios de queimaduras. Por isso é importante
usar o protetor solar todos os dias.
O
tratamento mais recomendado para a maior parte dos cânceres de pele é a remoção
cirúrgica do tumor. Para alguns tipos de tumores em regiões como o rosto, cuja
remoção provocaria danos estéticos, um tratamento inovador tem se mostrado
eficaz.
"Na
terapia fotodinâmica, aplicamos um creme sobre o local e em seguida jogamos uma
luz. Só as células cancerosas absorvem aquele creme. Elas morrem intoxicadas e
conseguimos preservar o tecido vizinho", diz Lobão. "Só serve para
tipos não melanoma, mais superficiais", afirma.
EXAME