Quarta-feira, 25 de maio de 2016
Presidente
do Senado conversou com ex-presidente da Transpetro sobre impedir que preso se
torne delator, diz jornal.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - ANDRE COELHO / Agência O Globo 11/05/2016
RIO - Em conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apoia e discute uma
mudança na lei que trata da delação premiada a fim de impedir que um preso se
torne delator. Renan sugere ainda que, após enfrentar esse assunto, também
poderia "negociar" com membros do STF "a transição" de
Dilma Rousseff.
A data das conversas não foram reveladas. Em um dos diálogos com Renan,
divulgados pelo jornal "Folha de S. Paulo", Machado sugeriu "um
pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil". Renan
responde: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que
alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada
preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".
Desde março, temendo ser preso, Machado, que é alvo da Operação
Lava-Jato, gravou pelo menos duas conversas com Renan. Na segunda-feira, também
foram revelados pelo jornal diálogos entre Machado e Romero Jucá (PMDB-RR),
ex-ministro do Planejamento. Na conversa, Jucá sugere que uma
“mudança” no governo resultaria em um pacto para “estancar a sangria” atribuída
à Operação Lava-Jato. A divulgação das gravações levou à saída do ministro do
governo do presidente interino Michel Temer. O peemdebista disse
que ficará afastado do cargo até o Ministério Público Federal se pronunciar
sobre os áudios e destacou que, se for inocentado, voltará ao posto.
A mudança defendida por Renan na conversa poderia beneficiar Machado. O
ex-presidente da Transpetro procurou Romero Jucá, Renan e o ex-presidente José
Sarney (PMDB) porque temia ser preso e virar réu colaborador. O ex-presidente
da Transpetro fez acordo de delação premiada, de acordo com o "G1". A
homologação da delação pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal (STF), deve ocorrer nos próximos dias.
"Ele está querendo me seduzir, porra. [...] Mandando recado",
afirmou Machado, em referência ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Na conversa, Renan critica ainda a decisão do STF tomada em 2015, que
mantém uma pessoa presa após a condenação em 2ª instância. Em outro momento da
conversa, Machado pergunta por que Dilma não "negocia" com os membros
do STF. Renan responde: "Porque todos estão putos com ela". Segundo o
presidente do Senado, os políticos "estão com medo" da Lava-Jato,
entre eles o presidente do PSDB Aécio Neves (MG). Ainda de acordo com Renan,
uma delação da Odebrecht "vai mostrar as contas". "Não escapa
ninguém, de nenhum partido", responde Machado. "Do Congresso, se
sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum".
À "Folha de S. Paulo", Renan afirmou que os "diálogos não
revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na
Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir
nas investigações."
A assessoria de imprensa do presidente do Senado também ressaltou que
"todas as opiniões do senador foram publicamente noticiadas pelos veículos
de comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara, a possibilidade de
alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não
confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras foram fartamente
veiculadas".
Por O Globo