Domingo, 28 de agosto de 2016
“Eu
não mereço isso (…) não sou bom o bastante (…) vão descobrir que eu sou uma
fraude”. Se frases como essas rodeiam a sua vida, você tem dificuldade em
reconhecer o mérito de suas conquistas e teme que sua “falta de talento” seja
descoberta a qualquer momento, pode estar sofrendo de um transtorno que atinge
mais de 70% da população mundial: a Síndrome do Impostor. Os sintomas foram
identificados pela primeira vez em 1978.
A dificuldade em creditar o sucesso a habilidades e
competência não é considerada oficialmente uma doença psicológica, mas já é
tema de estudo de psicólogos e educadores. A Síndrome do Impostor atinge
principalmente pessoas bem-sucedidas, a maioria mulheres, e já foi identificada
em figuras famosas como as atrizes Emma Watson e Kate Winslet, que deram
declarações à imprensa sobre não se sentirem merecedoras do sucesso e carreira
que conquistaram.
“Eu continuo achando que as pessoas vão descobrir que não
sou talentosa, que não sou tão boa. Que foi tudo uma grande farsa”, declarou a
atriz Michelle Pfeifer em 2002. Jodie Foster afirmou ao programa 60 Minutes que por anos teve medo de ser obrigada
a devolver o Oscar de melhor atriz pelo filme Acusados (1988). Meryl Streep,
Renée Zellweger, Chuck Lorre, Denzel Washington, a lista vai longe, e não
inclui apenas artistas, mas a diretora da Organização Mundial da Saúde,
Margaret Chan, também enfrenta o problema.
Os sintomas podem ser momentâneos, em situações de mudança
e estresse, ou contínuos, segundo o livro Os
Pensamentos Secretos das Mulheres de Sucesso, escrito pela psicóloga
Valerie Young. O tempo agrava o sentimento de culpa pelas conquistas e um
círculo vicioso se estabelece. Pessoas que sofrem Síndrome do Impostor se
esforçam para desenvolver tarefas de uma forma cada vez melhor para não serem
descobertas como fraude, se preocupam com cada detalhe e possuem autocobrança
elevada. Os bons resultados levam ao sucesso e aumentam o sentimento de farsa.
Promoções são vistas como sorte, atribuídas à aparência ou
qualquer outra possibilidade que não esteja relacionada à capacidade
intelectual e merecimento. Um comportamento comum é não mostrar confiança
demais por medo da reação das outras pessoas. Quem sofre de Síndrome do
Impostor se convence que não é inteligente o suficiente, portanto não merece
sucesso. Entre os sintomas, estão perfeccionismo, ansiedade e insônia, segundo
Young.
Como superarExistem diferentes linhas de terapias psicológicas que
amenizam o problema. O tratamento tem foco em diminuir a necessidade de
perfeição, fazer o paciente entender e aceitar o merecimento do sucesso, acabar
com a necessidade de a pessoa se comparar a outras, e ajudar na expressão de
sentimentos. O empreendedor russo Kyle Eschenroede recebeu mais de 600
mensagens após compartilhar um depoimento sobre como enfrentou o transtorno, de
pessoas de todo mundo relatando experiências com a Síndrome.
Eschenroede fez uma lista de dicas para ajudar na rotina
de quem tem Síndrome do Impostor, entre elas, lembrar que “estar errado não faz
da pessoa uma farsa”, repetir “é Síndrome do Impostor” quando as coisas
apertarem, lembrar habilidades e talentos, e manter um arquivo com coisas boas
e elogios recebidos: “sempre que alguém escreve que eu ajudei em algo, eu copio
e guardo na minha pasta. Quando me sinto uma fraude, leio histórias de pessoas
que eu ajudei”, contou.
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