Sexta-feira, 27 de julho de 2018
O número de ataques criminosos a carros-fortes cresceu 53% no Brasil no
primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2017
É o que aponta levantamento feito com base em dados da
Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV) e da Confederação
Nacional dos Trabalhadores de Segurança Privada (Contrasp).
O país teve 75 ataques a carros-fortes de janeiro a junho de
2018. No mesmo período do ano passado foram 49 ocorrências e, nos primeiros seis
meses de 2016, foram 22 ações. Vídeos gravados por câmeras de segurança mostram
como são esses ataques.
O levantamento revela ainda que, nos últimos dois anos, a região
Nordeste do país é a que vem acumulando mais casos de roubos e tentativas de
assalto a carros-fortes.
Foram 34 ataques nessa região em 2016, 56 ações em 2017 e essa
tendência persiste em 2018, quando, de janeiro a junho, quadrilhas armadas com
metralhadoras e fuzis atacaram 46 carros-fortes.
As quadrilhas que atuam no Nordeste têm sido chamadas de
"novo cangaço", numa alusão ao antigo bando de Lampião, por atacarem
os veículos que passam por estradas cortando o sertão.
Nas outras regiões do país também houve um aumento significativo
de ataques ao longo de três anos, mas reforçando a dinâmica: a região Sudeste
aparecendo em segundo lugar no acúmulo de casos, seguida da Sul, Centro-Oeste e
Norte.
Foram mais 13 ocorrências na Sudeste, 11 ações na Sul, três
ataques na Centro-Oeste e dois no Norte em 2018.
No âmbito dos estados, São Paulo e Bahia tiveram mais casos no
primeiro semestre de 2018: cada um teve dez registros, entre roubos e
tentativas de assalto a carros-fortes.
O que pode explicar o
aumento
O consultor em segurança pública José Vicente da Silva Filho
aponta a "facilidade" dos criminosos em conseguir roubar o dinheiro
dos veículos e a "deficiência" das polícias em identificar e prender
essas quadrilhas.
"O principal motivo é que é muito fácil. O principal
objetivo de qualquer bandido é o dinheiro vivo. O dinheiro vivo está nos
veículos de transporte de valores", diz Silva Filho, que já foi secretário
Nacional de Segurança Pública e é ex-coronel da Polícia Militar (PM) de São
Paulo. "Como esse recurso é muito farto, dinheiro é farto, através de uma
ação um pouco mais espetaculosa, em termos de armamento pesado, esses fatos vão
acontecendo."
O especialista afirma ainda que São Paulo
e Bahia concentram mais ataques por causa da estruturação das quadrilhas que
agem nesses territórios. "Quando há uma concentração desse crime, muito
específico, podemos cogitar da existência de grupos organizados que não estão
encontrando resistência por parte do trabalho da polícia, principalmente da
polícia de investigação."
Ataques a
bases
Em 2016,
havia mais ataques a prédios das empresas de transporte de valores no Brasil do
que a carros-fortes. Foram registrados sete casos de invasão a bases.
Há dois anos,
Ruben Shechter, diretor presidente da Associação Brasileira de Transportes de
Valores, se reuniu com as empresas e secretarias de segurança públicas
estaduais para adotar medidas preventivas de segurança e tentar reduzir os
ataques às bases. As empresas investiram R$ 400 milhões em segurança nos
últimos cinco anos, segundo a ABTV, que, alegando questões estratégicas de
segurança, não divulga detalhes do que foi feito.
Em 2017, os
ataques a transportadoras de valores caíram para três casos. E neste ano
ocorreram duas investidas a bases – uma no dia 6 de fevereiro
em Eunápolis, na Bahia, e outra no dia 1° de abril em
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
“Em função
dessa ação positiva em relação a bases de transporte de valores, a gente
percebe uma migração das tentativas de assalto a carros-fortes”, afirma
Shechter.
Fonte: G1