Quinta-feira, 27 de outubro-10 de 2022
É essa a
conclusão de um relatório do Forest Declaration Assessment (em tradução livre,
avaliação da declaração de florestas), divulgado nesta segunda (24).
Desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% sob o governo de Jair Bolsonaro, aponta estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). (Foto: Reprodução/Greenpeace)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — O mundo não está no caminho para cumprir os
compromissos assumidos para acabar com a perda de florestas e a degradação de
terras até 2030 e, também, os de restaurar áreas já degradadas. E o Brasil, com
seus elevados níveis de desmatamento, tem parte da responsabilidade.
E por que isso é importante? Desmatamento e degradação estão diretamente
associados com mais emissões de gases-estufa e, consequentemente, com mais
impulso à crise climática e menor possibilidade de evitar que o planeta
ultrapasse o 1,5°C de aumento de temperatura.
É essa a conclusão de um relatório do Forest Declaration Assessment (em
tradução livre, avaliação da declaração de florestas), divulgado nesta segunda
(24).
O relatório leva em conta o documento assinado por 145 nações, em 2021,
na COP26 (a conferência da ONU sobre mudanças climáticas), a Declaração dos
Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra. Também considera os
compromissos assumidos na Declaração de Nova York sobre Florestas, que aponta para
a necessidade de restauração de 350 milhões de hectares de matas.
Segundo a avaliação, ainda que as emissões associadas a desmatamento
representem somente de 10% a 12% das emissões totais no mundo, a eliminação
dessa fatia de gases é importante para conseguir atingir o que foi
convencionado sob o Acordo de Paris.
O documento ressalta o exíguo tempo para eliminar o desmatamento, como
acordado nas declarações internacionais. "Apesar de sinais encorajadores,
não há nenhum indicador global em dia para a concretização dos objetivos de
2030", aponta o relatório.
A avaliação também afirma que, globalmente, é necessária uma redução
anual de 10% no desmate para atingir o objetivo de 2030.
A parte tropical da Ásia é a única região do mundo no caminho certo para
conseguir parar o desmatamento até 2030, segundo o documento, que aponta que as
emissões por desmate de mata primária têm caído há cinco anos consecutivos nos
países da região.
De acordo com o relatório, mecanismos legais robustos, como moratórias,
são importantes para a proteção de florestas e foram postos em prática em anos
anteriores. A moratória da soja no Brasil é um bom exemplo. A partir dela ficou
proibida a comercialização do produto que tivesse origem em áreas com
desmatamento. O PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal) também é citado pelos autores da avaliação.
Apesar disso, mais recentemente se observou um enfraquecimento ou
reversão de tais mecanismos. Ao comentar o assunto, o documento cita o Brasil.
"Um estudo de 2021 mostrou que a Indonésia, assim como outros
quatro países com florestas tropicais -Brasil, Colômbia, República Democrática
do Congo e Peru — recuaram em regulações sociais e ambientais em anos
recentes", diz o relatório.
O caso da Indonésia é exemplificado com a não renovação da moratória do
óleo de palma, que teve fim em setembro de 2021. Apesar disso, as ações
anteriores no país associadas à palma levaram a consideráveis reduções na
destruição e o menor desmate em 20 anos associado a essa plantação, apesar da
expansão da produção, diz o documento.
De toda forma, o Brasil é o líder em desmatamento de floresta tropical
no mundo e, pelo seu tamanho, a destruição no país dificulta a meta global de
2030. Apesar do peso brasileiro na conta, a América Latina, como um todo, teve
uma redução líquida no desmate tropical em 2021, em comparação à média de
2018-2020.
Apesar dos dados preocupantes, há também "um progresso notável em esforços
de reflorestamento nas últimas duas décadas", que levou a novas florestas
com tamanho comparável ao do Peru e ganhos de cobertura vegetal em 36 países,
aponta o relatório.
Por: Folhapress