Quinta-feira, 11 de maio-(05) de 2023
Pesquisa apresenta caracterização genética dos vírus referentes
a quatro casos da infecção registrados este ano, três em Roraima e um no Paraná
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Mosquito Aedes aegypti é transmissor de arboviroses (Foto: Imagem ilustrativa | Venilton Kuchler/ANPr) |
Estudo da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz), mostra o ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue
no Brasil, que há mais de 15 anos não causa epidemias no país, o que faz
acender o sinal de alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença
causada por esse sorotipo viral.
A pesquisa apresenta a caracterização
genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados este ano,
três em Roraima, na Região Norte, e um no Paraná, no Sul do país. Segundo a
Fiocruz, a circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa
especialistas.
“Nesse estudo, fizemos a caracterização
genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo
de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou
anos, epidemias causadas por esse sorotipo”, alerta, em nota, o virologista
Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes
e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus
e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, que atua como referência regional para
dengue, febre amarela, chikungunya, Zika e vírus do Nilo ocidental.
O vírus da dengue tem quatro sorotipos.
Segundo a Fiocruz, a infecção por um deles gera imunidade contra o mesmo
sorotipo, mas é possível contrair dengue novamente se houver contato com um
sorotipo diferente. O risco de uma epidemia com o retorno do sorotipo 3 ocorre
por causa da baixa imunidade da população, uma vez que poucas pessoas
contraíram esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos
2000. Existe ainda o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em
pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente por outro sorotipo.
Para compartilhar rapidamente as
informações, os resultados da análise foram divulgados em artigo preprint na
plataforma medRxiv, sem o processo de revisão por pares. O trabalho
foi submetido para publicação em periódico científico. A pesquisa contou com a
parceria dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) de Roraima e do
Paraná, além da participação de especialistas de diversas instituições de
pesquisa.
Segundo o virologista Felipe Naveca, as
análises indicam que a linhagem detectada foi introduzida nas Américas a partir
da Ásia, no período entre 2018 e 2020, provavelmente no Caribe. “A linhagem que
detectamos do sorotipo 3 não é a mesma que já circulou nas Américas e causou
epidemias no Brasil no começo dos anos 2000. Nossos resultados mostraram que
houve uma nova introdução do genótipo III do sorotipo 3 do vírus da dengue nas
Américas, proveniente da Ásia. Essa linhagem está circulando na América Central
e recentemente também infectou pessoas nos Estados Unidos. Agora, identificamos
que chegou ao Brasil”.
Dos quatro casos analisados, três são
referentes a casos autóctones de Roraima, ou seja, correspondem a pacientes que
se infectaram no estado e não tinham histórico de viagem. Já o caso no Paraná
foi importado, diagnosticado em uma pessoa vinda do Suriname.
Os casos foram inicialmente
identificados pelos Lacens de Roraima e Paraná, respectivamente. Segundo o
pesquisador, foram as equipes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos
Estados Unidos de Porto Rico e do Departamento de Saúde da Flórida, que
identificaram os casos vindos de Cuba e nos EUA. “Assim, esse é um alerta
válido não só para o Brasil, mas para toda a região das Américas. Tendo em
vista estarmos vivendo um grande número de casos de arboviroses esse ano no
Brasil, a detecção de um novo sorotipo do vírus da dengue não é uma boa
notícia”, disse.
A pesquisa contou com o apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam); da Rede Genômica de
Vigilância em Saúde do Amazonas; da Rede Genômica Fiocruz; do Inova Fiocruz
(Inovação Amazônia); do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do
Ministério da Saúde do Brasil; do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq); e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro (Faperj).
Por: Agência Brasil