Segunda-feira, 19 de fevereiro-(02) de 2024
Grupo de parlamentares alega que declaração do presidente expõe
Brasil 'ao perigo da guerra' e configura crime de responsabilidade
Lula
comparou conflito na Faixa de Gaza ao Holocausto (Foto: Ricardo
Stuckert/Presidência da República)
Um grupo de deputados federais anunciou
neste domingo (18) que vai protocolar um pedido de impeachment contra
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em virtude da declaração feita
durante evento em Adis Abeba, na Etiópia, comparando a ação militar israelense
na Faixa de Gaza ao Holocausto. Segundo a deputada Carla Zambelli (PL-SP), a
fala configura crime de responsabilidade. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal
Correio.
“Não se pode comparar o incomparável.
Nada se compara à maior tragédia da humanidade, que foi o Holocausto e que
vitimou 6 milhões de judeus, além de diversas minorias. É injustificável,
leviana e absurda a afirmação do presidente da República. É uma afronta aos
judeus, aos descendentes do horror do nazismo e algo que só fomenta o
crescimento do antissemitismo no Brasil. O direito à liberdade de expressão não
engloba a banalização ao Holocausto”, disse a parlamentar.
A declaração de Lula foi feita em
entrevista coletiva neste domingo (18), depois da participação do presidente na
37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Adeba,
capital da Etiópia. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo
palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando
Hitler decidiu matar os judeus”, disse.
Os deputados alegam que Lula pode ter
cometido crime de responsabilidade por “ato de hostilidade contra nação
estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a
neutralidade”, conforme consta no Artigo 5º da Constituição.
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Foto: Câmara dos Deputados |
Zambelli diz que presidente expõe Brasil ao
perigo de guerra
“Isso enseja o
pedido de impeachment que estamos apresentando contra o mandatário da nossa
nação, que expôs-nos a perigo de guerra, como medida da aplicação da mais
inteira e urgente Justiça”, diz o documento.
Segundo os
parlamentares, a Corte Internacional não acolheu a acusação de que Israel
praticaria genocídio, mas Lula, “de maneira inconsequente e irresponsável,
continua suas bravatas, sempre omitindo o fato que foram os terroristas do
Hamas que invadiram Israel, matando, mutilando, estuprando e sequestrando
bebês, crianças, mulheres, homens e idosos”.
Os deputados dizem
que Lula se esquece de que os ataques não cessam há mais de 130 dias e que ele
incentiva injúria racial. Ela cita que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu, reagiu à fala do petista e disse que convocaria o embaixador
brasileiro no país para uma reprimenda.
Em
Israel
O presidente de
Israel, Isaac Herzog, foi às redes sociais para dizer que condena veementemente
a declaração em que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, compara
a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto.
Herzog disse que
há uma “distorção imoral da história” e apela “a todos os líderes mundiais para
que se juntem a mim na condenação inequívoca de tais ações”. Antes, o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já havia se manifestado,
dizendo que convocaria o embaixador brasileiro no país para uma reprimenda.
Entidades e
organizações também criticaram a declaração de Lula. A Conib (Confederação
Israelita do Brasil) repudiou a fala. A instituição classificou neste domingo
(18) a afirmação como “distorção perversa da realidade que ofende a memória das
vítimas do Holocausto e de seus descendentes”.
“Os nazistas
exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus.
Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou
mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e
defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu”, diz a Conib.
A entidade
criticou a posição do governo brasileiro em relação ao conflito. “Uma postura
extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio,
abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa
brasileira”, afirma o texto.
O presidente do
Yad Vashem (o memorial do Holocausto em Jerusalém), Dani Dayan, também se
posicionou. Segundo ele, a declaração de Lula é uma “escandalosa combinação de
ódio e ignorância”. Dayan disse que, segundo a definição da Aliança
Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), as falas do chefe do
Executivo brasileiro são “clara expressão antissemita”.
“Comparar um país
que luta contra uma organização terrorista assassina com as ações dos nazis no
Holocausto merece toda a condenação. É triste que o presidente do Brasil desça
a um ponto tão baixo de extrema distorção do Holocausto”, escreveu nas redes
sociais.
Especialistas,
políticos e entidades reagiram às declarações de Lula e afirmaram que as falas
comprometem a imagem do Brasil no cenário internacional e demonstram
desconhecimento histórico e visão anti-Israel.
Professora de
relações internacionais e doutora em ciência política pela USP (Universidade de
São Paulo), Denilde Holzhacker avalia que a posição de Lula não reflete o que
aconteceu na história. “É mais uma frase em que ele expõe uma visão
anti-Israel, o que reforça os argumentos de que há um fundo antissemita nas
falas do próprio presidente Lula”, afirma.
Para a
especialista, a fala de Lula inviabiliza a proposta do Brasil de ser
intermediário na busca da paz e deixa o país mais longe de ser parte de uma
solução. “A declaração cria para o Brasil um distanciamento não só com Israel,
mas também com outros países e com a comunidade judaica brasileira.”
O diplomata e
doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas Paulo Roberto de
Almeida ressalta que “as alusões ao Holocausto hitlerista são absolutamente
equivocadas e inaceitáveis do ponto de vista histórico e diplomático”. “Apenas
diminuem a credibilidade de Lula como interlocutor responsável em face dessa
tragédia. Elas [as declarações] apenas revelam seu despreparo para tratar desse
assunto”, acrescenta.
O Instituto
Brasil-Israel afirmou que a fala de Lula é um erro grosseiro que inflama
tensões e mina a credibilidade do governo brasileiro como um interlocutor pela
paz. “O genocídio nazista foi um plano de exterminar, em escala industrial,
toda a presença judaica na Europa, sob uma ideologia de superioridade racial e
antissemitismo. Não há paralelo histórico a ser feito com a guerra em reação
aos ataques do Hamas, por mais revoltantes e dolorosas que sejam as mortes de
dezenas de milhares de palestinos, entre eles mulheres e crianças, além dos
cerca de 1.200 mortos israelenses e as centenas de civis que permanecem
sequestrados em Gaza”, diz o texto.
Segundo a
entidade, a posição de Lula banaliza o Holocausto e fomenta o antissemitismo.
“Ganha contornos ainda mais absurdos em um desrespeito flagrante à presença em
Israel hoje de milhares de sobreviventes da barbárie nazista e seus
descendentes”, afirma a nota.
“O Brasil firmou compromissos internacionais para a preservação da memória do
Holocausto e historicamente defendeu a luta contra sua banalização. Essa deve
continuar a ser a posição brasileira.”
O senador Ciro
Nogueira (PP-PI) também chamou de vergonhosa a fala do presidente. “Comparar o
Holocausto à reação militar de Israel aos ataques terroristas que sofreu é
vergonhoso. O Holocausto é incomparável e não pode ser naturalizado nunca. Em
nome dos brasileiros, pedimos desculpas ao mundo e a todos os judeus”, disse.
O senador Sergio
Moro (União Brasil-PR) afirma que Lula demonstra que não sabe o que foi o
holocausto. “Ofende o povo judeu e mancha, mais uma vez, a imagem do Brasil no
exterior.” Para o senador Izalci Lucas (PSBD-DF), o presidente deveria “buscar
a paz” em vez de dar declarações assim.
“Lula mais uma vez
envergonha o Brasil e ataca Israel e o povo judeu comparando a sua legítima
defesa contra os terroristas do Hamas ao genocídio promovido por Hitler contra
os judeus. É repugnante”, declarou também o deputado federal Carlos Jordy
(PL-RJ).
O deputado federal
cabo Gilberto (PL-PB) chamou as falas do presidente de “momento de insanidade”.
“Lula compara o governo de Israel a Hitler, que promoveu a morte de milhões de
judeus em câmaras de gás.”
O presidente do
Partido Novo, Eduardo Ribeiro, reforçou que o posicionamento de Lula trará
prejuízos ao Brasil no cenário internacional. “A fala surreal de Lula
comparando Israel a Hitler vai rodar o mundo ocidental e afundar de vez a
imagem do Brasil.”.
Por: R7