Quarta-feira, 03 de abril-(04) de 2024
Valor considera todas as fontes de renda, inclusive programas
sociais e aposentadorias. No mercado de trabalho, ganho foi maior entre os 10%
mais ricos, que voltaram ao patamar pré-pandemia
(Foto - Reuters/Bruno Domingos) |
O rendimento médio dos brasileiros cresceu 11,5% e
atingiu o recorde de R$ 1.848 por pessoa da família por mês. Este valor considera
não só os ganhos do trabalho, mas também outras fontes de renda como programas
sociais, aposentadorias, aluguel, etc.
O recorde anterior era 2019, último ano antes da
pandemia de Covid-19, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, dia 19,
pelo IBGE.
Essa superação dos níveis pré-pandemia, no mercado
de trabalho, ocorreu em meio a um forte ganho de renda sobretudo no topo da
pirâmide. A alta de 10,4% no rendimento de todos os trabalhos dos mais ricos –
e, portanto, que tendem a ter maior qualificação e escolaridade – em 2023 ante
2022 também foi, na prática, apenas um movimento de recuperação.
Com esse avanço, o rendimento médio do trabalho dos
10% mais ricos (R$ 12.163 por pessoa da família ao mês) ficou 0,6% abaixo do
verificado em 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19, segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados
nesta sexta-feira, dia 19, pelo IBGE.
No primeiro ano da crise sanitária, os ganhos
desses trabalhadores mais qualificados até subiram, mas por causa de um efeito
estatístico – houve redução no número de ocupados no auge da pandemia, e quem
continuou trabalhando, em geral, tinha salário mais elevado.
Só que, depois, os ganhos médios caíram em 2021 e
2022. Foi o que aconteceu com a advogada Andrea Vidal, de 52 anos, que mora na
Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e trabalha em São João de Meriti, na
Baixada Fluminense. A renda dela foi atingida em cheio pela Covid-19, inclusive
em 2020.
— No ano da pandemia (a renda) realmente caiu
muito, foi péssimo. O Judiciário ficou fechado por muito tempo, então a gente
não tinha sentença, não tinha decisões e não tinha ganhos. E, pós-pandemia,
continuou praticamente a mesma coisa — contou Andrea, que mora com o marido.—
Para dizer a verdade, a gente só começou a normalizar ano passado — disse.
Embora
seu salário esteja normalizando, o mesmo não aconteceu com o seu marido, que
teve um impacto maior sobre a renda. O cônjuge é representante comercial de
empresas chinesas no Brasil. Andrea comentou que, antes da pandemia, ele
atendia uma rede de 100 lojas e hoje diminuiu para 30. Em consequência, a
remuneração dele já não é mais contada para o pagamento das despesas em casa.
Ganhos cresceram menos para os 10% mais pobres
Já entre os 10% mais pobres, a renda com salários, a renda do
trabalho cresceu só 1,8%, para R$ 389 por pessoa por mês – o valor é abaixo do
salário mínimo porque considera trabalhos informais e a renda domiciliar, ou
seja, por cada membro daquele lar, incluindo quem não trabalha, como as
crianças e idosos.
Desde
a pandemia, a comparação é mais favorável: houve uma alta de 12,4%.
Mercado de trabalho melhor
O aumento da renda total em 2023 foi puxado por um mercado de
trabalho que se recuperou totalmente da crise causada pela Covid-19, tanto em
termos de geração de empregos quanto de reajustes de salários — as duas
variáveis importam; a família pode ganhar mais tanto por causa de aumentos nos
pagamentos quanto devido ao fato de que um membro conseguiu emprego melhor.
Gustavo Fontes,
analista do IBGE, chamou a atenção para o fato de que, ano passado, a proporção
de empregados no total da população em idade de trabalhar superou o nível de
2019, último ano antes da pandemia:
— Isso mostra uma
recuperação do mercado de trabalho em 2023. Esse processo já tinha iniciado de
forma mais acentuada em 2022 e continuou.
Por: Vinívius Neder e Arthur Falcão - O GLOBO