Quinta-feira, 08 de agosto-(08) de 2024
Segundo a estimativa, a cada R$ 10 mil movimentados em pagamentos instantâneos, que incluem Pix e TED, R$ 7 tiveram fins fraudulentos
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SÃO
PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Criminosos desviaram R$ 1,5 bilhão em golpes do Pix ao
longo de 2023. A informação, divulgada nesta terça (6), é da empresa de
pagamentos em tempo real ACI Worldwide.
Segundo
a estimativa, a cada R$ 10 mil movimentados em pagamentos instantâneos, que
incluem Pix e TED, R$ 7 tiveram fins fraudulentos. Para chegar ao resultado, a
ACI, com auxílio da empresa de estatística Global Data, usou sua própria base
de atendimento, que chega a 40% dos consumidores do país, para retirar uma
amostra que representasse o universo de pagamentos instantâneos, que movimentou
R$ 19,4 trilhões em 2023.
Os
dados foram complementados por entrevistas com instituições financeiras.
O
levantamento considera apenas os chamados golpes financeiros, em que o cliente
é induzido a fazer a transferência para a conta do criminoso, usando as
próprias credenciais. Fraudes que driblam a segurança dos bancos ficaram de
fora dos cálculos.
No
país, 27% dos golpes partiram de pedidos de pagamento antecipado por produtos
ou serviços e 20% pediram transferência para compras de produtos. Sites e
mensagens falsas são a principal isca para aplicar golpes, de acordo com o
superintendente de inteligência em pagamentos da ACI, Cleber Martins.
Um
exemplo disso é o recente golpe da taxa da blusinha, em que criminosos enviam
uma mensagem solicitando um pagamento para liberar um produto comprado da
China, supostamente preso nos Correios. O chamariz usado é a taxação imposta
pelo governo aos produtos importados de marketplaces chineses.
Na
sequência, vêm as ofertas de falsos investimentos, que respondem por 17% dos
golpes, os pedidos de pagamento de dívidas em aberto (10%) e os chamados golpes
do romance, em que o estelionatário finge manter um relacionamento íntimo com a
vítima –são 7% dos casos. Outros 7% dos casos têm a ver com doação para causas,
como a mobilização para reconstruir o Rio Grande do Sul.
Mais
de 60% dos golpes envolvem transferências de menos de R$ 7.000, considerados
pela ACI como valores módicos.
Na
avaliação de Martins, os bancos brasileiros mantêm segurança apertada contra
fraudes de maior monta. “Quem tenta comprar uma geladeira de R$ 20 mil por Pix
normalmente vai receber uma ligação do banco perguntando se está tudo bem, e o
cliente aceita essa restrição em nome da segurança.”
Nos
Estados Unidos, onde há menos vigilância sobre os hábitos do consumidor, R$ 232
a cada R$ 10 mil movimentados em pagamentos instantâneos têm destino
fraudulento. Na Austrália, a fração fica em R$ 82 a cada R$ 10 mil.
Ainda
assim, há uma tendência de alta para os prejuízos com golpes: a projeção é que
as perdas ultrapassem os R$ 3 bilhões em 2027, de acordo com a ACI.
A
adoção de inteligência artificial para analisar o comportamento do consumidor é
o que há de mais avançado na proteção contra fraudes, de acordo com Martins. “O
banco usa telemetria [dados de navegação, a partir de mouse, teclado e toques]
do smartphone, do internet banking e até do caixa eletrônico, para detectar
quando o cliente transmite um comportamento de urgência”, explica Martins.
Os
criminosos, segundo o especialista, transmitem uma sensação de urgência para
que a vítima baixe sua guarda. “O sistema começa a criar sinais de risco a
partir de uma análise da telemetria, do sinal da internet e do canal
utilizado.” Estão entre esses indícios pressa e erros incomuns.
Os
bancos também observam padrões de atividade dos criminosos. Uma conta que, por
exemplo, seja muito recente e tenha interesse em criptomoedas é suspeita.
VEJA
COMO SE PREVENIR
– Sites
e mensagens falsas
Os
golpes de engenharia social, que partem de uma mensagem falsa para manipular a
vítima, são a modalidade de crime patrimonial mais frequente na internet. Só no
primeiro trimestre de 2024, a rede internacional APWG (Anti-Phishing Working
Group) detectou quase 1 milhão de casos, que respondiam por 20% das fraudes
registradas no período.
Os
criminosos costumam se basear em tendências da internet, para se aproveitar do
tráfego de usuários. A onda de estelionatos mais recente, de acordo com a
empresa de cibersegurança Eset, consiste em mensagens falsas do Correios, para
cobrar a recém-instituída taxa de importação, também chamada de taxa das
blusinhas.
O
enredo dos estelionatários inclui site falso, pedido de CPF para identificar a
compra e uma versão genérica da trajetória do pacote, para dar ar de
verossimilhança à história. No fim, os criminosos mostram a que vieram pedindo
Pix para uma conta indicada.
Para
evitar esse golpe, o consumidor deve estar ciente de que a única referência
usada pelos Correios para localizar o pacote é o código de rastreio.
De acordo com Daniel Barbosa, da Eset, as pessoas também devem observar se os
canais de contato adotados e os sites indicados na comunicação coincidem com os
endereços oficiais.
– Golpe
do amor
O
conhecido golpe do Tinder usa perfis falsos para atrair vítimas para
sequestros-relâmpagos ou pedir transferências sob justificativas diversas.
Parte das contas falsas usa fotos furtadas de terceiros, e outra, imagens
geradas por inteligência artificial.
A
plataforma Social Catfish, especializada em reconhecer golpes que partem da
paquera, recomenda que as pessoas façam buscas reversas para ver se há mais
imagens da suposta pessoa na internet. Também é possível buscar por nome,
telefone, email ou endereço.
Hoje,
os três maiores apps de relacionamento (Tinder, Bumble e Grindr) usam moderação
humana e inteligência artificial para identificar os fakes de IA. Tinder e
Bumble também oferecem a opção de autenticar o próprio perfil, enviando uma
foto tirada na hora, dentro do aplicativo.
Portanto,
é mais recomendável manter contato com perfis verificados.
–
Investimento falso
Outro
golpe comum nas redes sociais é o roubo de contas para divulgar falsos
investimentos com retornos financeiros incríveis, tendo como base a
credibilidade da pessoa cujo perfil fora tomado.
Para
evitar cair nesses golpes, as pessoas, além de desconfiar de ofertas boas
demais para ser verdade, precisam se atentar também a quem se fala. Buscar
entender se o comportamento do interlocutor é coerente ou, caso o golpista se
passe por representante de uma instituição, se o canal é oficial.
Em
qualquer caso de golpe, as autoridades recomendam o registro de boletim de
ocorrência.
No
país, são duas leis que tipificam os delitos digitais: a Lei de Crimes
Cibernéticos, mais conhecida como Lei Carolina Dieckmann; e, a lei 14.155 de
2021, que prevê o crime de invasão de dispositivo informático.
Por: Notícias ao Minuto