Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Base aliada do presidente Lula avalia
que o diálogo com o segmento piorou após as informações falsas sobre a taxação
dessas operações
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Lula (PT) e Sidônio Palmeira em cerimônia de posse para a troca de comando da Secom (Foto: Gabriela Biló/Folhapress) |
O governo Lula (PT) percebeu um aumento
da insatisfação de autônomos e empreendedores após a crise do Pix na última
semana, e prepara agora uma campanha com foco nesse público.
Na avaliação de aliados do presidente,
o diálogo com o segmento já era difícil e piorou ainda mais com a disseminação
de fake news sobre a taxação dessas operações.
Na noite da última sexta-feira (17), a
Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) avisou às agências
encarregadas da publicidade do governo sobre a encomenda de uma campanha de
esclarecimento.
O conceito da propaganda ainda será
encaminhado, mas, segundo o que já foi informado, será direcionada ao segmento
mais sensível à medida, que são os empreendedores.
Essa não é a primeira vez que Lula é
obrigado a desmentir falsas informações endereçadas ao segmento. Em 2022, o
petista teve que negar a afirmação, reproduzida pelo então presidente, Jair
Bolsonaro (PL), de que acabaria com a categoria de empreendedor individual
(MEI).
À época, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou a remoção
de postagens de aliados de Bolsonaro que repetiam a desinformação.
Agora, com a crise
do Pix, o governo viu que perdeu o debate. Por isso, decidiu recuar. Mas há
ainda a avaliação de que o estrago com esse público não ficou apenas no recuo.
Uma ala de aliados
de Lula diz que a medida da Receita sequer deveria ter sido feita, que teve um
caráter burocrático e que não houve devido cálculo político.
A avaliação é de
que nem a equipe econômica teve noção do impacto que haveria. O tema não foi
debatido com a Casa Civil ou mesmo com o ministério de Micro e Pequena Empresa,
de Márcio França.
Outra ala diz que
a forma como ela foi divulgada foi equivocada. Era preciso primeiro articular
com pessoas ou instituições que pudessem ajudar nesse diálogo com a população.
Um integrante do
governo cita, por exemplo, o nome da influenciadora Nath Finanças, que é membro
do Conselhão.
Antes de assumir a
Secom, na terça-feira, Sidônio Palmeira tinha encomendado às agências
encarregadas da comunicação do governo uma campanha de esclarecimento sobre as
novas regras de monitoramento da Receita de transações por Pix.
Um dia antes da
posse de Sidônio, o ministério solicitou às agências a apresentação de uma
estratégia de comunicação digital para combate a fake news a cerca da falsa
informação sobre taxação do sistema de pagamento.
Na noite de
quinta-feira (16), após a revogação da medida, no entanto, a Secom informou à
Calia, agência escolhida para a empreitada, que a campanha tinha sido
cancelada. As agências foram orientadas a aguardar nova solicitação.
Desde a campanha
eleitoral, já é considerado um desafio a comunicação e a implementação de
medidas para os empreendedores e autônomos, hoje próximos ao discurso do
bolsonarismo.
Um auxiliar de
Lula relembra o episódio envolvendo, por exemplo, a regulamentação dos
trabalhadores de aplicativo de transporte. Era uma promessa de campanha do
petista, mas a medida enfrentou forte resistência.
O programa foi
lançado mesmo após alertas de integrantes do governo de que a proposta poderia
não ser bem aceita pelo segmento. A avaliação desses interlocutores de Lula é
de que o governo ainda tem dificuldade em dialogar com esse novo perfil de
trabalhador.
No ano passado,
mais uma vez o governo se viu diante da dificuldade de dialogar com esse
público durante a campanha eleitoral de São Paulo.
O então candidato
Pablo Marçal (PRTB) teve desempenho melhor nas periferias por ter uma
plataforma com discurso voltado para o empreendedorismo.
Durante a
campanha, Lula foi à capital paulista realizar cerimônia de balanço e novos
anúncios do Acredita, programa que amplia a oferta de crédito para
empreendedores e famílias de baixa renda.
Sancionada na
semana anterior, a medida não teve evento de lançamento por falta de agenda,
mas foi chamada por Lula de “maior programa de crédito já feito na história
deste país para pequeno e médio empresário”.
A oposição
explorou, no caso do Pix, justamente a possibilidade de microempreendedores
caírem na malha fina da Receita Federal com a nova medida.
Integrantes da Fazenda buscaram desarmar essa informação reforçando que o foco
era no crime e nas irregularidades, não no pequeno comerciante. Mas ganhou
tração essa versão, sobretudo após o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira
(PL-MG).
O alerta para
organizar a oposição veio do marqueteiro da campanha de Bolsonaro em 2022, Duda
Lima. Ele deu o tom para que os ataques à medida focassem nos empreendedores.
Com informações do Cátia Seabra e Marianna Holanda, da
Folhapress