Segunda-feira, 14 de abril-(04) de 2025
Objetivo de Edna Dantas e Maria Gabrielly é levar a experiência
sustentável para lugares que buscam iniciativas parecidas
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A construção da mãe e da filha recebeu o nome de Casa de sal e é uma reivindicação por moradia e ecologia popular - (crédito: Reprodução/Instagram/casadesal.eco) |
Edna
Dantas, 55 anos, e Maria Gabrielly Dantas, 27 anos, construíram um casa
com 8 mil garrafas de vidro na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. A construção da mãe e da
filha recebeu o nome de Casa de sal e é uma reivindicação por moradia e
ecologia popular. Agora, o objetivo delas é levar a experiência para lugares
que buscam iniciativas parecidas.
A
designer de moda Maria Gabrielly destaca que os financiamentos ambientais e
climáticos, mesmo no ano que o Brasil recebe a a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças
Climáticas de 2025 (COP30), em Belém (PA), continua sendo distanciado da
comunidade negra. Segundo ela, existe uma dívida histórica a ser reparada e as
ações dela e da mãe, a empreendedora e agente socioambiental Edna, se
somam na luta por reparação e valorização das tecnologias produzidas por
mulheres negras.
"Nosso
diálogo é para que as pessoas, os poderes e empresas entendam quanto é viável e
funcional a ecologia e sustentabilidade para replanejar a questão habitacional.
Vi uma pesquisa recente que diz que as mulheres negras podem demorar até sete gerações para ter uma
casa própria, quase 200 anos. Isso é um dado muito alarmante. E também alarma
para refletirmos a onde estão as mulheres negras na promoção de direitos
fundamentais como moradia, transição ecológica e justiça climática",
afirma Maria Gabrielly.
Edna
e Maria Gabrielly são de uma família originária do agreste pernambucano.
"Minha vó Severina, que sempre incentivou e ensinou a reutilizar materiais recicláveis, fazer a separação e ter cuidado com os recursos
naturais dentro da nossa casa", lembra a designer de moda. Em 2014,
mãe e filha fundaram a marca sustentável Cabrochas, que nasceu como um brechó
e hoje é símbolo de autonomia financeira para elas.
"Em 2019 se mudamos para
Ilha de Itamaracá, especificamente para Praia do Sossego, e conhecemos um
território de uma natureza rica e abundante, de uma comunidade tradicional, que
fica dentro de uma reserva de Mata Atlântica, uma Área
de Proteção Ambiental, mas que infelizmente lida com uma negligência ambiental
e um racismo ambiental muito profundo ocasionado por descartes indevidos em
diversos lugares de mata, mar, mangue, rio. E a partir disso nasce a ação de
transformar alguns pontos de lixo em jardins ecológicos, nisso minha mãe, Edna
Dantas, com sua experiência com resíduos sólidos, entende que um dos resíduos
mais descartados no nosso território é a garrafa de vidro", cita Maria
Gabrielly.
Mãe e filha trabalham há dez anos com
sustentabilidade, atuando em conjunto pela Cabrochas e pela Casa de Sal. Os
dois projetos têm sido grandes forças no debate do desenvolvimento de práticas
sustentáveis. Elas atuam na Ilha de Itamaracá e Região Metropolitana do Recife, impactando positivamente o território
e comunidade onde vivem.
A casa com garrafas de
vidros começou a ser construída no dia 1º maio de 2020 e em dois anos
elas concluíram os sete cômodos. "A Casa de sal, dentro da nossa
pesquisa, é a primeira casa no mundo que utiliza garrafas de vidro na vertical
na construção, e esse fato contribui diretamente na iluminação e no seu design.
Reciclamos diversos outros materiais para construção, principalmente a madeira
e móveis descartados, de fato é uma arquitetura vernacular",
conta Maria Gabrielly.
"E isso só foi possível a partir de
uma escuta ativa entre nós duas, porque nunca tínhamos feito isso antes, mas
por meio de muita coragem e consciência, conseguimos construir esse símbolo de
resiliência e emancipação. Hoje, só de garrafas de vidro já passam das 13 mil,
utilizamos 8 mil na casa e as demais em quatro eco-lixeiras comunitárias,
totalizando uma média de 8 toneladas de vidro recuperadas por nós", frisa
a designer de moda.
Por: Correio
Brasiliense