Domingo, 23 de novembro-(11) de 2025
Matéria do G1
![]() |
| Foto: Reprodução/2Wai |
Um
aplicativo que usa inteligência artificial para criar avatares de
pessoas já falecidas tem gerado polêmica na internet. Chamado
de 2Wai,
o app permite recriar alguém virtualmente para interações ao vivo. Por
enquanto, está disponível apenas nos Estados Unidos.
Antes,
é preciso gravar um vídeo da pessoa diretamente no app, que servirá para criar
o avatar digital. O processo dura cerca de três minutos.
Um
vídeo que demonstra a tecnologia viralizou no X. Nele, uma mulher grávida
aparece conversando com a própria mãe, que já morreu. A
história avança e mostra a avó contando uma história para o bebê e, em seguida,
a criança já crescida usando o app para interagir com ela.
O
vídeo da 2Wai, de quase dois minutos, foi publicado pelo cofundador da startup,
Calum Worthy, e já ultrapassou 40 milhões de visualizações. Worthy, para quem
não sabe, também é ator e ficou conhecido pela série “Austin & Ally”, do
Disney Channel, em que interpretou “Dez”.
O
post logo recebeu uma enxurrada de comentários, a maioria críticos. “Essa é uma
das coisas mais vis que já vi”, escreveu uma pessoa.
“Mais
uma forma de as pessoas perderem completamente o contato com a realidade e
evitarem o processo normal do luto”, afirmou outra.
Como
funciona o 2Wai?
O
2Wai é um aplicativo para criar “HoloAvatars”, como a empresa chama os
avatares, que não se limitam a pessoas já falecidas. A startup afirma que é
possível gerar um “HoloAvatar” de “personagens”, como um personal trainer,
escritor, agente de viagem ou até astrólogo.
Quando é de
alguém que já faleceu, ele só pode ser criado se houver um vídeo gravado antes
da morte — com a pessoa falando e se movimentando.
A partir dessas imagens, a IA amplia o repertório do “gêmeo digital”, que,
segundo o 2Wai, consegue falar como a pessoa real, reconhecer o usuário e
lembrar informações passadas.
A
empresa afirma que o app suporta mais de 40 idiomas, mas não diz se o português
do Brasil está disponível. Por enquanto, o 2Wai está funcionando apenas para
iPhone (iOS) nos EUA, mas chegará “em breve” a modelos Android.
O
serviço é totalmente gratuito atualmente, mas eles dizem que “assinaturas e
compras dentro do app podem ser incluídas no futuro”.
Especialista
ouvida pelo g1 alerta para o risco de dependência e para a “ilusão de
realidade” ao usar IAs, especialmente durante o processo de luto.
“A
mesma tecnologia que oferece companhia pode gerar confusão entre o real e o
simulado, criar dependência afetiva e, em alguns casos, amplificar a angústia”,
analisa Mariana Malvezzi, psicóloga e psicanalista da faculdade ESPM.
Grief
tech: a técnica de replicar
alguém que já morreu de forma digital com IA é conhecida como grief tech
(“tecnologia do luto”, em português). Plataformas desse tipo criam o que chamam
de “clones digitais” ou “gêmeos digitais” que permitem conversar e interagir
com versões virtuais de pessoas que já morreram.
“Essa ilusão da IA pode minar a autonomia emocional, afastar o
enlutado de rituais do luto e dificultar o movimento de simbolização, que é
reconhecer a morte e, aos poucos, ressignificá-la”, completa a especialista.
Um
em cada quatro brasileiros se imagina usando inteligência artificial para
conversar com familiares já falecidos, aponta uma pesquisa da ESPM realizada
neste mês para ao Dia de Finados. O levantamento ouviu 267 participantes que
perderam entes queridos nos últimos dois anos.
Tecnologia
do tipo se espalha
O
uso de IA para “reviver” pessoas falecidas tem se tornado cada vez mais comum.
Em maio, o g1 mostrou o caso de uma versão de inteligência artificial
de uma vítima de homicídio que “marcou presença” em um julgamento no
Arizona, nos EUA.
A
versão da vítima criada por IA disse ao atirador que lamentava que eles
tivessem se encontrado no dia do crime, naquelas circunstâncias, e afirmou que,
em outra vida, os dois poderiam ter sido amigos, segundo a agência Associated
Press.
Em
outro caso polêmico, o jornalista Jim Acosta, ex-âncora da CNN norte-americana,
“entrevistou” um avatar criado por IA de Joaquin Oliver, jovem de 17 anos
morto no massacre em uma escola de Parkland, na Flórida, em 2018.
O
vídeo, publicado no YouTube, mostra Acosta ao lado da versão digital de
Joaquin, recriada pelos pais a partir de uma foto antiga, com voz e movimentos
gerados por IA.
Por: g1.

