Domingo, 28 de agosto de 2016
Análise que leva a essa conclusão passa por vários pontos
negativos, que incluem a ausência dos pais para impor limites e compulsividade;
apesar disso, eles também mencionam alguns aspectos positivos
Especialistas
defendem a presença da família para evitar excessos
A chegada do Pokémon Go ao Brasil traz também
uma onda de debates que já ocorrem em outros países que adotaram o jogo há mais
tempo. Entre os assuntos mais discutidos estão a segurança dos jogadores, que
às vezes se arriscam para caçar pokémons, e a situação psicológica de alguns
deles, que podem se tornar compulsivos e ter sérios prejuízos sociais.
Especialistas defendem e criticam o jogo, ao mesmo tempo, dividindo as análises
entre vários aspectos, citando vazios existenciais e compulsividade como
responsáveis pelos excessos cometidos por jogadores, ausência de
desenvolvimento de habilidades adultas ou elencando benefícios em tratamentos
hospitalares. Acompanhe abaixo.
O jovem estudante Hyago Dias, que mora em João Pessoa, não se
considera um jogador compulsivo. Ele disse que se diverte com o Pokémon Go nas
horas vagas, nos intervalos das aulas da faculdade ou depois que sai do
trabalho. “Conheço muitas pessoas da minha geração que jogam. Já era fã do
desenho Pokémon”, afirmou , lembrando que o jogo é um complemento do famoso
desenho japonês que fez sucesso no fim dos anos 90.
O psicólogo Flávio Faissal participou do Correio
Debate, da Rede Correio Sat, onde explicou que, para ele, o jogo não é um
problema se quem o utiliza sabe que se trata de uma ferramenta para diversão
nas horas vagas. Segundo o especialista, o caso que deve ser analisado de perto
é a compulsão, que faz as pessoas se dedicarem demasiadamente ao aplicativo, o
que pode trazer graves consequências ao convívio social ou nas atividades
diárias.
“O jogo é o primeiro em realidade aumentada,
divulgado massivamente em todo o mundo. Para a área de tecnologia, representa
um grande avanço. Como toda inovação, a gente precisa lidar com essa inovação.
É importante avaliar sem generalizar”, disse o especialista, introduzindo a
explicação cautelosa para não culpar o jogo pelos problemas.
“Existe um problema na sociedade, que é um grande
vazio existencial. Esses jogos [por exemplo] vêm para preencher o vazio das
pessoas. Uma personalidade compulsiva pode ser complicadora na hora de usar um
jogo como esse”, disse o psicólogo.
Flávio comparou o jogo a outros vícios, como
álcool e drogas, que causam sérios danos quando mal administrados por pessoas
que podem desenvolver compulsão e precisam preencher vazios. “O Pokémon Go é
uma 'metáfora'. [O problema] pode ser o aplicativo, álcool ou drogas... O que
está em jogo aqui não é um game, mas a compulsão”.
Pais devem participar para
impor limites
O especialista reforçou que uma solução para
evitar a compulsividade ou falta de controle com o Pokémon Go entre crianças e
adolescentes é a efetiva participação dos pais na brincadeira.
“Pais e mães devem ter consciência que esta
geração nasceu na tecnologia, o que é diferente de outras épocas. A
compulsividade pode partir de uma ausência dos pais, algo como ‘meu pai não
brinca comigo, então o pokémon brinca'. Tenho pacientes pais e filhos que têm
tardes agradáveis brincando com o jogo, sem nenhum problema. Os pais devem
participar do que os filhos gostam”, falou, ao reforçar que a presença da
família é essencial para evitar excessos e impor limites.
Especialista elenca mais
pontos ruins
Diego Tavares, psiquiatra e pesquisador do
programa de transtornos afetivos (GRUDA) do Hospital das clínicas da
Universidade de São Paulo (USP), é um pouco mais pessimista quanto ao jogo,
apesar de elencar pontos positivos. Ele disse que o Pokémon Go não requer
nenhum tipo de habilidade adulta.
“Não estimula habilidades que adultos deveriam ter
como raciocínio lógico, planejamento de resolução de problemas reais e nem
mesmo criatividade para jogá-lo. Um jogo que envolve o treino de problemas
reais envolvendo interações entre pessoas e questões bem mais complicada como
lidar com frustração, controlar a impulsividade, saber a hora de desistir de um
projeto, entre outras questões seria muito bem vindo e ajudaria adultos a
desenvolverem habilidades que lhes seriam úteis”, explica o médico.
Para Diego Tavares, a febre do jogo ocorre porque
ela resgata a fantasia da criança que existe dentro de cada adulto, em especial
nos ‘kidults’, ou seja, nos adultos que desejam trazer de volta elementos da
infância em busca de felicidade. Daí a procura pelo conforto dos referenciais
nostálgicos e da diversão de quando se era apenas uma criança e a vontade louca
de caçar um Pikachu.
“É preciso lembrar que a geração adulta de hoje
foi a que assistiu ao desenho Pokémon e, com as tecnologias que trazem para o
mundo quase real – já que não deixa de ser virtual – o que só ocorria na
fantasia da animação, o jogo se torna um grande sucesso na faixa etária acima
de 21 anos”.
Apesar disso, Tavares não fala somente em pontos
negativos. Segundo ele, muitos hospitais têm utilizado o aplicativo para tirar
crianças doentes dos leitos e fazê-los caminharem pelos corredores buscando
pokémons. "Tudo isso é muito útil quando utilizado de forma segura e
controlada e visando ao uso terapêutico destes aplicativos", comenta o
médico.
Conheça o game e o desenho que
o originouPokémon Go é um game de smartphones e tablets que
pode ser baixado gratuitamente e é inspirado no anime japonês Pokémon, sucesso
há pelo menos duas décadas no mundo, focando uma realidade onde existem seres
equivalentes a animais, que têm diferentes tipos e poderes, sendo esses
capturados e treinados por jovens.
O novo jogo, que foi lançado em julho em alguns
países, mas só chegou ao Brasil no último dia 3 de agosto, já é uma febre
mundial. Ele é compatível com os sistemas operacionais Android e iOS e oferece
aos jogadores a tecnologia de realidade aumentada. Com o recurso, os
praticantes podem ter uma experiência muito próxima da que os personagens do
desenho vivenciam, saindo em jornadas, capturando os ‘monstrinhos’ e duelando
com outros participantes na luta para se tornar um grande ‘treinador’.
A realidade aumentada é um tipo de mídia que
mistura o mundo real com elementos criados virtualmente. No caso do jogo em
questão, o jogador visualiza os arredores na tela do celular capturados pela
câmera do aparelho e o aplicativo insere os pokémons nesses lugares.
Para funcionar, o jogo utiliza o sistema de GPS
dos celulares/tablets e faz com que os jogadores se desloquem fisicamente para
conseguir capturar os pokémons em diferentes locais.
No game, existem os PokéStops, que são lugares nos
quais o usuário pode conseguir itens importantes gratuitamente. Eles aparecem
em destaque no mapa do aplicativo e permitem que o jogador consiga PokéBolas
(objetos virtuais utilizados para capturar os pokémons) sem precisar gastar
dinheiro. O participante na jornada precisa andar até o PokéStop mais próximo.
Nesses locais, o jogador também pode conseguir ovos de pokémons, que são
chocados após o usuário andar alguns quilômetros.
Assim como no anime, também existem ‘ginásios’ no
jogo. Eles aparecem em marcações coloridas no mapa, assim como os Pokéstops. Ao
alcançar o nível cinco e se juntar a uma das equipes do jogo – vermelha (Red),
amarela (Yellow) ou azul (Blue) – o jogador poderá desafiar ginásios
adversários ou treinar os pokémons naqueles que pertencem ao time que escolher.
Os pokémons capturados podem ficar mais fortes.
Conforme o jogador captura várias vezes o mesmo personagem, ganha dois itens:
uma ‘StarDust’ e um ‘Candy’. O aumento de nível de poder de luta requer um
determinado número desses itens. O que deve ser feito, então, é capturar todos
os pokémons que aparecerem.
Por Alisson Correia e Gustavo Medeiros/Portal Correio