Sábado, 28 de setembro de 2019
Foto: José Aldenir/Folhapress
JOÃO VALADARES RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Uma imagem de satélite que registra
suposto navio na costa pernambucana no início deste mês pode ajudar a desvendar
a origem da mancha de óleo que atingiu pelo menos 105 locais de 46 municípios
em oito estados nordestinos nos últimos 25 dias.
O grupo que analisa o caso, composto por órgãos ambientais
estaduais e federais e pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e UFRPE
(Universidade Federal Rural de Pernambuco), identificou um ponto em alto mar
com uma mancha ao lado.
Ainda não há resultado conclusivo. A grande dificuldade é a
qualidade da imagem, que foi aproximada para se analisar ponto a ponto.
Eduardo Elvino, diretor de controle de fontes poluidoras da CPRH
(Agência Pernambucana de Meio Ambiente) que estuda o problema desde o início em
parceria com a UFPE e UFRPE, diz que as imagens são distorcidas e, por isso, a
análise é bastante dificultada.
“Imagine que temos quase uma cor só. Por isso, a gente está
analisando pixel a pixel (ponto a ponto). Identificamos um ponto, que seria um
suposto navio, e estamos trabalhando para saber a densidade desta mancha”,
disse.
Elvino informou que não há, até o momento, detalhes sobre a
possível embarcação. Ainda não tem como precisar a distância entre o ponto que
está sendo analisado e a costa pernambucana. Ele disse também, sem especificar
a quantidade, que, na imagem, aparecem vários navios que serão analisados
posteriormente.
Marcus Silva, professor do departamento de oceanografia da UFPE,
que também trabalha no grupo de investigação do problema, declarou que, pela
quantidade de óleo descartada, é preciso análise muito detalhada para saber se
o material teve origem na mesma fonte.
Ele afirma, de maneira preliminar, que existe coincidência entre
o tempo de saída do óleo com o período em contato com a água e posterior
chegada à areia da praia.
“Mas há um volume bastante expressivo, que só fomos percebendo
com o passar do tempo. Uma lavagem de um tanque de um único navio, por exemplo,
não produz essa quantidade de material”, afirma.
O professor diz que, no momento, ainda não é possível cravar o
que realmente aconteceu. Atesta apenas que a origem é marinha e que o sistema
de ventos está distribuindo o material.
Marcus Silva declara que também investiga imagens dos mapas de
vento para construir um padrão de circulação superficial capaz de espalhar um
grande volume de óleo, como foi identificado.
“É um quebra-cabeça. Pego o mapa de vento e a imagem de satélite
para construir esse padrão. O tempo de chegada na costa vai dar um histórico
para apontar há quanto tempo isso está viajando”, declara.
Ao contrário do que a CPRH informou nesta quinta-feira (26), a
mancha de óleo avança aproximadamente 10 centímetros em um segundo.
Os primeiros materiais começaram a aparecer nas praias
nordestinas no dia 2 de setembro em oito estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Na região, só o estado
da Bahia não foi atingido.
Relatório do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis) aponta entre as praias afetadas alguns dos
destinos turísticos mais famosos do Nordeste, como Pipa e Natal (RN),
Carneiros, Porto de Galinhas e Boa Viagem (PE), e João Pessoa (PB).
A análise das amostras do óleo feitas pela Petrobras e pela
Marinha revelou que a substância é petróleo e não é de origem brasileira.
A fauna também foi afetada. Em quatro estados, foram encontradas
mortas seis tartarugas marinhas e uma ave (Bobo-pequeno). Outras duas
tartarugas foram resgatadas com vida.
De acordo com a CPRH, as manchas não seguirão, necessariamente,
para a Bahia e o Sudeste. A tendência é que o óleo siga para o norte do país.
O Ibama orienta que banhistas e pescadores não entrem em contato
com o óleo e que, se identificarem o material, notifiquem a prefeitura. Caso
cidadãos encontrem animais com óleo, devem acionar órgãos ambientais. Esses
animais não devem ser lavados e devolvidos ao mar.
Na manhã desta quarta (25), as manchas chegaram a Sergipe. A
praia de Ponta dos Mangues, no município de Pacatuba, amanheceu coberta pelo
material.
A área atingida fica perto da reserva biológica de Santa Isabel, na cidade
litorânea de Pirambu. Essa unidade de conservação é dos principais pontos do
projeto Tamar, executado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade) que atua na preservação de espécies de tartarugas-marinhas
ameaçadas de extinção.
A dermatologista Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento
de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que o contato de
banhistas e pescadores com o óleo pode causar irritações na pele e alergias.
“Os dois principais riscos para a pele são a reação alérgica, que pode gerar
coceira e vermelhidão e a formação de acnes de oclusão, ou seja, acnes geradas
pelo excesso de óleo na pele, similar a quando se passa produtos oleosos demais
como os protetores solares.”
Romiti destaca que se deve tomar cuidado com a região dos olhos,
nariz e boca. Ela orienta que, em caso de contato com o material e eventual
irritação na pele, deve-se procurar um dermatologista para o tratamento, que
varia do uso de pomadas e sabonetes específicos à prescrição de remédios de
ingestão oral.
Em nota, o Ibama corrobora a versão da dermatologista e
acrescenta que o petróleo cru “pode conter compostos considerados cancerígenos”.
Por:
Paraibaonline