Quinta-feira, 26 de março de 2020
Segundo integrantes da
pasta, seria inviável suportar mais que 15 dias com atividades totalmente
suspensas
O ministro da economia, Paulo Guedes (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência O Globo)
BRASÍLIA - A equipe
econômica trabalha com projeções que consideram um encerramento gradual da
quarentena contra o coronavírus a partir do dia 7 de abril. A avaliação é que
as medidas anticrise anunciadas até agora não são suficientes para suportar um
período maior que esse de atividades completamente suspensas.
As estimativas foram confirmadas por fontes
que trabalham na elaboração dos cenários. Até agora, as medidas anunciadas pelo
ministro da Economia, Paulo Guedes, garantem alívio para empresas e mais acesso
a crédito pelo período de três a quatro meses. Segundo técnicos, as ações já
foram elaboradas considerando um relaxamento gradual do isolamento.
As medidas elaboradas até agora foram pensadas
porque, mesmo após um eventual relaxamento da quarentena, as atividades
voltariam a funcionar, em ritmo reduzido. "Os shoppings estariam mais
vazios, porém funcionando", explicou uma das fontes.
Em pronunciamento em cadeia nacional na noite
de terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que sejam suspensas as
medidas de contenção, como suspensão de aulas e fechamento de comércio.
Bolsonaro, no entanto, não indicou qualquer plano para que isso seja feito de
forma gradual, nem um prazo.
A fala de Bolsonaro, na contramão das
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das medidas tomadas por
outros países, foi alvo de críticas por parte de especialistas, autoridades e
congressistas. Durante o pronunciamento, houve panelaços em várias cidades do
país contra o presidente.
A equipe econômica tem se reunido com
representantes do setor produtivo para medir a temperatura da preocupação do
empresariado. Na avaliação de uma fonte, hoje o país não tem uma quarentena
propriamente dita, mas apenas ações em deterimnados estados. O problema é que a
lista inclui as maiores economias do Brasil: Rio e São Paulo. Segundo este técnico,
o fato de as medidas restritivas não terem sido diretamente elaboradas pela
União dificultam um controle sobre como e quando o isolamento será
flexibilizado.
Além do time que trabalha diretamente com
Guedes, as críticas a medidas restritivas são repercutidas por aliados
próximos, como o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes. Na avaliação do
executivo, não é possível "parar a economia" por causa da pandemia.
— Aqueles que impedem a produção, o
comércio e a circulação de mercadorias serão responsabilizados pela depressão
econômica que estão causando. Não se pode resolver um problema criando outro
ainda maior. O fechamento de empresas e o desemprego em larga escala
decorrentes de medidas restritivas exageradas atingem as camadas mais
vulneráveis da população e podem causar comoção social. Negar este lado da
questão é um desserviço à nação brasileira. Devemos tomar todas as medidas
sanitárias de precaução e proteger os idosos, mas não podemos parar a economia
— disse Novaes.
O presidente do BB criticou ainda diretamente
governadores e prefeitos, apontados por Bolsonaro como principais responsáveis
para medidas que ele considera excessivamente restritivas.
— As medidas do Banco Central são adequadas,
mas ninguém faz milagres na economia se empresas são fechadas compulsoriamente
por ação de governadores e prefeitos — pontuou.
Apesar da postura de Novaes, o BB informou que
seguirá orientações da Febraban (que representa o setor bancário) para evitar a
aglomeração de clientes, como a restrição do atendimento presencial.
Clientes só poderão ser atendidos nas agências
no caso de serviços essenciais que não podem ser feitos por aplicativos,
internet ou caixa eletrônico, como desbloqueio de senha e cartão. A
instituição também reduziu o expediente nas agências: abre uma hora mais
cedo, às 9h para atender exclusivamente idosos. De 11h às 14h, para os
demais clientes.
No domingo, durante entrevista coletiva à
imprensa, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já havia sugerido que,
em algum momento, medidas de relaxamento da quarentena deveriam ser tomadas.
— Ninguém aguenta permanecer parado full time.
Para duas (semanas), libera um pouco para as pessoas, deixa as pessoas se
reorganizarem. Vamos ter que ir assim — disse o ministro, na ocasião.
Guedes também já havia sugerido que seria
preciso encontrar um meio termo entre as medidas de isolamento e a retomada da
atividade econômica. Ao anunciar as primeiras medidas de combate aos efeitos
econômicas da pandemia, o ministro afirmou que se todos ficassem em casa, a
economia entraria em colapso. No entanto, frisou que seguiria recomendações do
Ministério da Saúde.
— Se ficar todo mundo em casa, o produto
colapsa. Se ficar todo mundo na rua, a velocidade de contágio é muito rápida e
você atinge o sistema de saúde. Então, deve ter um meio termo. Os ingleses
andaram sugerindo o seguinte: os mais idosos em casa e os mais jovens manter
uma vida próxima do normal. Mas não sou eu que tenho que falar isso, é o
Ministério da Saúde — disse Guedes, no último dia 16.
Por: O Globo