Quinta-feira, 08 de Outubro de 2015
Muito mais do que um atestado de crueldade, o fato de que 50% dos
brasileiros são favoráveis ao extermínio de bandidos reflete o estado de
insegurança do país. O dado, que não chega a surpreender, é a revelação mais
impactante de pesquisa do Instituto Datafolha, realizada para o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, entidade que congrega profissionais
especialistas em violência urbana. A primeira conclusão dos avaliadores da
amostragem é a de que o medo da violência leva as pessoas a concordarem com a
absurda expressão de que “bandido bom é bandido morto”.
Trata-se, portanto, de um grito de legítima defesa e de protesto contra
um Estado inoperante, que não assegura condições mínimas de proteção e
segurança à população. Desejar a morte do agressor é um anseio presente em
sociedades marcadas pelo crescimento da delinquência e pelas omissões do setor
público. Por isso, é um equívoco achar que os usuários da infeliz frase sairão
por aí matando negros e pobres, como alegam simploriamente alguns analistas
apressados. A realidade é que os brasileiros não suportam mais o cotidiano de
roubos, assaltos, homicídios e violências de que são vítimas — nem sempre
explicado pela condição de pobreza ou miséria de seus praticantes.
Deve-se prestar atenção a outra advertência, segundo a qual é enganoso
pensar que a eliminação de agressores levaria à extinção da criminalidade.
Sociedades violentas são também as que lidam mal com suas próprias deformações.
Comunidades e governos que tentam negar essa realidade continuarão convivendo
com o medo, o desejo de vingança e a multiplicação de delinquentes.
Gutemberg Cardoso/Polêmica PB

