Sábado, 16 de novembro de 2019
A pesquisa mostra que em todos os grupos etários a taxa de homicídios da
população preta ou parda superou a da população branca.
A taxa de homicídios entre homens jovens pretos e pardos em 2017 chegou a 185 a cada 100 mil habitantes de 15 a 29 anos (Foto: Reprodução)
RIO DE JANEIRO, RJ
(FOLHAPRESS) - A taxa de homicídios entre homens jovens pretos e pardos em 2017
chegou a 185 a cada 100 mil habitantes de 15 a 29 anos, quase três vezes mais
do que os brancos, com média de 63,5, informou estudo divulgado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (13).
A pesquisa mostra que em todos os grupos
etários a taxa de homicídios da população preta ou parda superou a da população
branca, mas a violência a que jovens pretos ou pardos estão submetidos é mais
letal.
O número de homicídios entre brancos de 15 a
29 anos cai para 34 quando considerada também a população feminina, mas
continua quase três vezes menor do que os negros jovens, que se somados homens
e mulheres computaram 98,5 assassinatos por grupo de 100 mil brasileiros em
2017.
"Os problemas relativos à violência
incidem de maneira bastante desigual nos jovens pretos ou pardos",
analisou Cláudio Crespo, analista de população e indicadores sociais do IBGE.
Outro fator apontado pelo IBGE é que os
números da violência entre jovens negros são grandes em vários setores da
sociedade. Estudantes pretos ou pardos do 9º ano do ensino fundamental
vivenciam mais experiências violentas do que os brancos, como ter sofrido
agressão por algum parente ou envolvimento em brigas com armas de fogo ou
branca.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de
2015, do IBGE, apontou ainda que 15,4% dos estudantes pretos ou pardos do 9º
ano do ensino fundamental não compareceram à escola por falta de segurança no trajeto
casa-escola ou na própria escola, nos 30 dias anteriores à pesquisa. Entre os
brancos, a taxa é de 13,1%.
Mais da metade dos alunos negros estudavam em
estabelecimentos em área de risco em termos de violência, isto é, em escolas
que informaram estar em região com risco de furto, roubo, consumo de drogas ou
homicídios.
Douglas Belchior, membro do conselho geral da
Uneafro Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe
Trabalhadora), que agrega militantes da causa negra e luta antirracistas,
destacou o poder de superação dos estudantes negros diante das adversidades.
"O poder de superação e resiliência dos
estudantes negros, sua família e comunidade é impressionante. Infelizmente
vivemos o contexto de um governo que se coloca contrário às elaborações,
reivindicações e demandas históricas das lutas por igualdade e justiça
racial", afirmou Belchior.
Já Luanda Botelho, analista do IBGE, apontou
como a violência precoce prejudica o lado psicológico dos jovens em formação.
"Os estudos mostram que quem mais sofre com a violência na adolescência
também está mais sujeito a doenças como depressão, a piores resultados
acadêmicos e a se envolver em violência no futuro", analisou.
No grupo de pessoas pretas e pardas total, sem
diferenciar idade ou sexo, a taxa de homicídios aumentou de 37,2 para 43,4
entre 100 mil habitantes, de 2012 a 2017. O crescimento não foi
proporcionalmente igual ao dos brancos, que permaneceu estável: de 15,3 para 16.
Essa diferença significa que pretos ou pardos
tinham 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio em 2017 do que os
brancos.
Luanda Botelho explicou que o estudo ajuda a
traçar um panorama maior da desigualdade racial no Brasil.
"Nós analisamos a violência mais extrema,
através das taxas de homicídio, mas também a violência mais presente no
cotidiano, do ambiente em que essa população está inserida", disse ela.
O Atlas da Violência, publicação do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública divulgado em junho, já havia mostrado que o índice de
mortes violentas entre jovens negros vinha crescendo no Brasil.
Entre 2007 e
2017, o assassinato de negros aumentou dez vezes mais do que o de não negros
(brancos, amarelos e indígenas).
Um estudo de 2013 apontou que as mortes
violentas de jovens haviam custado ao Brasil cerca de 1,5% do PIB em 2010,
quando foram assassinados 28.562 nesta faixa etária. Em 2017, foram 35.783 -um
aumento de 25%.
Por: Diego Garcia/Folhapress