Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Escolha
para novo líder tem racha entre Otoni de Paula e Gilberto Nascimento, ambos
ligados à Assembleia de Deus
![]() |
Os deputados federais Otoni de Paula e Gilberto Nascimento — Foto:
Divulgação |
A 20 dias da
escolha de seu próximo líder, a Frente Parlamentar Evangélica continua rachada
em duas candidaturas. Os postulantes ao comando do bloco são os deputados Otoni de
Paula (MDB-RJ), que tem se aproximado do governo
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Gilberto
Nascimento (PSD-SP), alinhado ao bolsonarismo. Ambos
são ligados à Assembleia de Deus.
A disputa,
contudo, ganhou um tom de ameaça recentemente: cerca de 30 deputados ligados a
Nascimento ameaçam deixar a bancada caso Otoni saia vitorioso.
A manobra visa, inclusive, atrapalhar o funcionamento da frente, hoje
com 245 deputados e senadores. O regimento interno do Congresso Nacional prevê
que esses blocos precisam ter 198 parlamentares para funcionar, e bolsonaristas
articulam uma debandada que possa deixar a bancada abaixo do mínimo exigido.
Parlamentares ouvidos pelo GLOBO, sob reserva, afirmam que o clima na
bancada evangélica é "péssimo", sem qualquer consenso. A resistência
a Otoni reflete o receio de que o grupo comece a se alinhar ao governo federal.
No fim do ano passado, o deputado representou a frente em reunião no
Palácio do Planalto, na qual o presidente sancionou o Dia Nacional da Música
Gospel. Na ocasião, Otoni se tornou alvo de críticas por fazer um discurso com
afagos ao petista. Na eleição municipal do Rio, ele apoiou a reeleição de
Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula, irritando lideranças religiosas
bolsonaristas.
Nascimento, por sua vez, é descrito como um dos precursores do movimento
por ter participado da criação do grupo, em 2003. Delegado da Polícia Civil em
quarto mandato na Câmara, o deputado é respeitado na bancada e tem a benção do
pastor Silas Malafaia, fundador da Assembleia de Deus Vitória em
Cristo.
Ao que tudo indica, em 26 de fevereiro, última quarta-feira do mês, a
frente evangélica deve mesmo ter uma eleição pela primeira vez. Até hoje, a
bancada nunca colocou a decisão em votação e se orgulha de escolher nomes de
consenso. Em 2023, sem unanimidade, Otoni se retirou da corrida, e um acordo de
presidência alternada foi costurado entre Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM).
Atual presidente, Silas Câmara torce para que haja conciliação e diz
desconhecer as ameaças de debandada:
— Não tenho conhecimento sobre isso, mas se estão falando em sair da
frente, por que participar da eleição? Se propõem a participar sem querer
admitir um cenário? Ameaçar é uma perda de tempo. Este "se perder, eu
saio" é covardia" — afirmou ao GLOBO.
Pessoalmente, Câmara diz já ter definido seu voto, mas se reserva sobre
quem será seu candidato. Segundo ele, declarar torcida apequena os deputados.
Nos bastidores, seus articuladores afirmam sua preferência por Otoni.
— Silas e eu definimos que será Otoni. Não tem racha algum, somos todos
da mesma igreja (Assembleia de Deus de Madureira). Gilberto nunca quis (ser
presidente) — garante Cezinha de Madureira (PSD-SP).
Enquanto Otoni tem a os caciques da bancada ao seu redor, Gilberto
Nascimento vem sendo defendido por personalidades como o deputado fluminense
Sóstenes Cavalcante, mais novo líder do PL na Câmara.
Com informações do O GLOBO